Rede Globo/Divulgação |
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Ator Domingos Montagner está sendo procurado nas águas do rio São Francisco |
O ator Domingos Montagner, 54 anos, que estava desaparecido desde a tarde dessa quinta-feira (15), foi encontrado morto no rio São Francisco, no município de Canindé de São Francisco, sertão sergipano. A equipe de bombeiros confirmou que o corpo do ator foi achado preso a pedras do rio, a 30 metros de profundidade, perto da usina de Xingó. De acordo com um anúncio anterior da TV Globo, o ator gravou cenas da novela “Velho Chico” pela manhã e, após almoçar, foi mergulhar, mas não voltou à superfície.
A produção foi avisada pela atriz Camila Pitanga e deu início às buscas amparada por helicópteros do Grupamento Tático Aéreo, pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros, além de pescadores da região. A atriz e ribeirinhos que estavam no local prestaram depoimento na delegacia do município.
A região onde o ator desapareceu é conhecida pelas fortes correntezas. A última morte por afogamento em Sergipe foi em maio deste ano, quando uma adolescente morreu ao navegar de barco pelo rio.
Segundo o delegado de Canindé, Antônio Francisco Oliveira Filho, Pitanga revelou em depoimento que, depois de almoçar, ela e Montagner resolveram mergulhar no rio, num local conhecido como prainha do Canindé. “Os dois entraram na água e a correnteza ficou forte de repente. Camila nadou rápido e conseguiu abraçar uma pedra. Ela chegou ver o Domingos nadar contra a correnteza, mas ele cansou e afundou,” disse o delegado.
De acordo com Camila, em seu depoimento à polícia, ela percebeu que havia muita correnteza, avisou a Domingos e os dois tentaram retornar para a pedra a nado. Camila chegou primeiro e tentou ajudar o amigo segurando sua mão por duas vezes, mas a força da correnteza o levou de volta para a água. Camila gritou por socorro e o ator dava sinais de cansaço e desespero. Ele conseguiu retornar à superfície por duas vezes, porém desapareceu.
Montagner deixa a mulher, a atriz e produtora Luciana Lima, e três filhos: Leo, 11 anos, Antônio, 7, e Dante, 4. Essa é a segunda morte em “Velho Chico”. Em abril, o ator Umberto Magnani morreu aos 75 anos devido a um acidente vascular encefálico (AVE). Magnani interpretava o padre Romão e foi substituído às pressas por Carlos Vereza, que assumiu o posto de padre Benício.
Ator multifacetado
Santo, personagem de “Velho Chico”, marcou a 12ª participação de Montagner na televisão, que apresentou o ator no seriado “Mothern”, do GNT, em 2008, e, dois anos depois, como Carlos, amante da protagonista vivida por Lília Cabral na minissérie “Divã”, da Rede Globo.
Domingos Montagner nasceu em 26 de fevereiro de 1962, em São Paulo. A carreira artística do ator começou no circo, na companhia de seu teatro La Mínima, em 1980. Em 1990, ingressou no teatro como palhaço.
Em 2011, Montagner recebeu seu primeiro papel em uma novela, já com destaque, como o cangaceiro Herculano em “Cordel Encantado”. Depois, transformou-se em rosto recorrente na emissora, atuando em títulos como “Salve Jorge” e “Sete Vidas”.
O ator, que fazia questão de se afirmar palhaço, começou a carreira estudando com a atriz Myriam Muniz e, em seguida, no Circo Escola Picadeiro. Foi lá que conheceu Fernando Sampaio, com quem criou o La Mínima, em 1997. O espetáculo “A Noite dos Palhaços Mudos”, inspirado em uma história de Laerte, rendeu-lhe um prêmio Shell de melhor ator em 2008.
A dupla de palhaços também originou o coletivo Circo Zanni, do qual o Montagner era diretor artístico. O ator estreou no cinemas em 2012, fazendo uma participação no longa “Gonzaga - de Pai Pra Filho”, de Breno Silveira, sobre o rei do baião e seu filho.
O papel como coronel Raimundo no longa de Silveira rendeu a ele a primeira indicação ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro -ele concorreu na mesma categoria por interpretar Milton em “A Grande Vitória” (2015).
No mesmo ano, ele deu vida ao delegado Espinosa, personagem criado pelo escritor carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza no livro “Espinosa Sem Saída”, na adaptação televisiva “Romance Policial - Espinosa”, do GNT.
Em 2016, estrelou os longas “Vidas Partidas”, de Marcos Schechtman, “De Onde te Vejo”, de Luiz Villaça, “O Outro Lado do Vento”, de Walter Lima Jr, e “Um Namorado para Minha Mulher”, de Julia Rezende, lançado em agosto. Montagner estava escalado para elenco de “O Que Nos Une”, trama global das 23h com previsão para abril de 2017.
Elenco de volta
A direção da Globo decidiu no início da noite de ontem paralisar as gravações de Velho Chico no Nordeste e no Rio de Janeiro, após a morte do protagonista da novela, Domingos Montagner, que se afogou ao mergulhar no rio São Francisco. Todo o elenco e técnicos que estavam no Nordeste foram orientados a encerrar as gravações, que iriam até o dia 18, e voltar para o Rio.
A cúpula da emissora não decidiu qual solução adotará para resolver o desaparecimento de Santo, personagem de Montagner. “Não dá para pensar hoje”, teria dito um executivo da emissora.
A novela está a duas semanas do fim, previsto para o dia 30. A Globo tem cinco capítulos de frente e vai exibi-los, até como forma de homenagem a Domingos Montagner.
Reprodução Instagram |
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Equipes de resgate durante buscas pelo ator no rio São Francisco |
Amigos e colegas de trabalho lamentam: ‘Era grande protagonista’
Atores, diretores e escritores lamentaram a morte do ator Domingos Montagner, encontrado no rio São Francisco, no município de Canindé de São Francisco, sertão sergipano. Para o diretor Jayme Monjardim, que dirigiu Domingos na novela “Sete Vidas” e na série “Divã”, ele era “um grande ator, um grande protagonista”. O diretor Breno Silveira disse que era “uma das figuras mais doces e talentosas” com quem trabalhou.
Choro e tristeza
Marcos Schechtman, diretor, trabalhou com Domingos na novela “Salve Jorge” e no filme “Vidas Partidas”: “Estou completamente sem chão. Estou arrasado. Não só pela perda do grande talento que ele era, mas sobretudo porque era um grande amigo. Eu tive o privilégio de não só trabalhar com ele na televisão e em meu primeiro longa. Tive a chance de testemunhar o grande ator que ele era. Uma pessoa extraordinária, de uma grandeza como ser humano como poucas com as quais a gente cruza na vida. Faltam palavras para descrever a perda colossal.”
Jayme Monjardim, diretor, trabalhou com Domingos na novela “Sete Vidas” e na série “Divã”: “O Domingos era um grande profissional, um grande ator, um grande protagonista. Nós o esperamos dois anos para fazer ‘Sete Vidas’, [o papel] foi escrito para ele. Ele era um amigo de vida, de pensamentos, de filmes, de histórias. Nem sei o que dizer. Estou impactado.”
Benedito Ruy Barbosa, autor de “Velho Chico”: “Só consigo chorar e rezar. Há muito tempo eu não rezava. Eu sinto porque perdi um dos maiores atores que trabalhei, mas lamento muito mais porque o mundo perdeu uma belíssima pessoa.”
Luiz Alfredo Garcia-Roza, escritor: “Como ator, era excelente. Era feito sob medida para ser o Espinosa [detetive personagem dos romances de Garcia-Roza]. E além disso uma pessoa agradabilíssima, muito amorosa e ao mesmo tempo muito forte. Lamento essa notícia. Tivemos pouco contato, mas foi o suficiente para perceber a potência dele, o que ele tinha de proximidade humana, comunicação e afeto. Foi um encontro relâmpago, mas era como se eu o conhecesse há muito tempo.”
Júlia Rezende, o dirigiu em “Um Namorado para Minha Mulher” (em cartaz): “A experiência foi a melhor possível. Era maravilhoso como parceiro. O que aconteceu foi muito inacreditável. A gente teve uma experiência muito simples, mas muito feliz. Era um grande ator, fantástico, um cara que contribuiu muito para o filme, por causa de sua vivência no circo, que acabou entrando para o roteiro. A gente brincava que estávamos desconstruindo o galã que a Globo construiu ao botar nele aquela peruca que o personagem usa.”
José Henrique Fonseca, diretor de TV: “Não tenho muito o que dizer. A gente ficou muito próximo com a série que a gente fez. Era um amigo que eu encontrava sempre que ele estava no Rio. Era um cara cheio de vida e que estava começando uma trajetória muito grande na vida dele. Ele estava a caminho de ser um dos grandes atores brasileiros. Você via a cada ano ele crescendo no papel. Eu perdi um amigo, é uma perda irrecuperável mesmo. Estou sem chão aqui desde 15h.”
Lilia Cabral, atriz, trabalhou com Domingos em “O Divã”: “Agora o que posso fazer é rezar muito por ele, pela mulher e pelos filhos, que são incríveis. Vamos ter sua lembrança no coração pelo resto das nossas vidas. O que a gente pode fazer, senão o Brasil inteiro reverenciá-lo e rezar?”
Hugo Possolo, diretor do grupo Parlapatões, em seu Instagram: “Hoje foi um dia duro, cheio de dor e tristeza para nós. O ator Domingos Montagner é um grande amigo e seu falecimento nos abala profundamente. Transmitimos nossos pêsames aos seus familiares e amigos. Aproveitamos para informar que, em função dessa situação, não realizaremos a peça de hoje, Prego na Testa. Espero que todos compreendam.”