A regeneração é uma verdade absoluta para a vida. Diz respeito a existência de qualquer pessoa. A regeneração trata da restauração do ser humano com Deus o seu Criador. Por meio da obra soberana do Espírito Santo, Deus concede ao que crê um novo nascimento, transformando radicalmente sua natureza caída. A regeneração não é uma simples reforma moral, mas um milagre divino que capacita aquele que crê a amar a Deus e a viver segundo Sua vontade (Jo 3.3-8; Tt 3.5).
Desde a Queda, a humanidade está espiritualmente morta e separada de Deus (Ef 2.1-3). O pecado original corrompeu a natureza humana, tornando-a incapaz de buscar a Deus por seus próprios méritos (Rm 3.10-12). Portanto, a regeneração é essencial para que alguém entre no Reino de Deus. No diálogo com Nicodemos, Jesus ensina que "se alguém não nascer de novo, não pode ver, muito menos entrar no Reino de Deus" (Jo 3.3,5), desafiando a visão judaica de que a obediência à Lei ou a herança abraâmica seriam suficientes para a salvação. A entrada no Reino não depende de linhagem ou méritos humanos, mas de um novo nascimento espiritual concedido por Deus.
Jesus descreve o novo nascimento como sendo "da água e do Espírito" (Jo 3.5), o que remete ao profeta Ezequiel de purificação e transformação interior (Ez 36.25-27). A água simboliza a purificação do pecado, enquanto o Espírito representa o novo nascimento, a regeneração espiritual. Ele também compara a regeneração ao vento: "O vento sopra onde quer" (Jo 3.8), destacando que a obra do Espírito é soberana e não depende do esforço humano (Jo 1.12-13; Rm 9.16). Assim, o novo nascimento, a regeneração é uma ação da graça divina.
A regeneração concede vida espiritual e introduz quem crê ao Reino de Deus, que não é uma estrutura política, mas o governo de Deus sobre corações transformados. O Reino de Deus já se manifesta na vida dos regenerados, como ensinado na oração do "Pai Nosso" (Mt 6.10). Essa transformação leva o cristão à obediência, não pela imposição de Lei, mas pela graça (Rm 6.14; Cl 1.13).
Nicodemos questiona como um homem já nascido pode nascer de novo (Jo 3.4), e Jesus responde que "o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito" (Jo 3.6). O nascimento físico gera vida terrena, mas apenas o Espírito Santo pode gerar a vida espiritual. A regeneração não só garante a vida eterna, mas também transforma a conduta do crente. Por isso que o texto sagrado declara que "todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado" (1Jo 3.9). Isso não significa que o regenerado nunca peca, mas que sua relação com o pecado muda. Ele a a buscar a santidade, motivado pelo amor a Deus e ao próximo (1Jo 5.3; Mt 22.37-40; Rm 6.11).
A regeneração está intimamente ligada à obra redentora de Cristo. Jesus menciona a serpente de bronze levantada no deserto (Jo 3.14; Nm 21.9), mostrando que, assim como os israelitas quando no deserto foram curados ao olhar para a serpente, a humanidade só pode encontrar vida eterna, cura para a sua alma, ao olhar para o Cristo levantado na cruz e crer nEle, tanto quanto em sua obra salvífica. A cruz é o meio pelo qual a regeneração se torna possível, pois nela Cristo remove a culpa do pecado e abre caminho para a ação transformadora do Espírito Santo.
No final do Evangelho de João, vemos que Nicodemos experimentou a regeneração. Inicialmente um discípulo secreto, mas ao final, ele aparece publicamente para cuidar do corpo de Jesus (Jo 19.39), demonstrando que o Espírito Santo removeu seu medo e o conduziu à verdadeira fé. Ninguém permanece o mesmo após um encontro com Jesus, o Cristo.
Em conclusão, a regeneração é um milagre divino que transforma pecadores em filhos de Deus. Somente aqueles que am por essa transformação podem entrar no Reino de Deus e usufruir da vida eterna, segundo o ensino do Cristo. O evangelho nos convida a reconhecer nossa necessidade de regeneração e a confiar exclusivamente em Cristo. Assim como Nicodemos teve que abandonar sua confiança em suas obras religiosas-humanas, devemos entender que é somente pelo poder do Espírito Santo que se pode experimentar o nascer de novo e viver para a glória de Deus. Essa transformação deve ser evidente em nossa vida através de frutos como amor, santidade e obediência (Gl 5.22-23), nos levando a uma vida de gratidão e santidade, em comunhão com Deus e refletindo Sua glória de agora em diante, por toda a eternidade.