Quando o diálogo deixa de ser algo essencial para o entendimento, a democracia veio a óbito. Não é possível o convívio social respeitoso e pacífico numa sociedade na qual ainda se discute o valor do ser humano, seja ele quem for. Não é sustentável política ou juridicamente uma nação, onde a maioria da população sequer conhece os direitos e garantias fundamentais que traduzem o seu próprio direito/dever se ser considerado cidadão.
Não se pode falar em soberania nacional, quando o povo governado não entende o conceito de interdependência, de reciprocidade e manutenção dos tratados de paz para evitar o colapso mundial de todas as relações/nações.
Não se pode falar em religião como bandeira política num país no qual o Estado é laico, e as pessoas continuam levantando conflitos para impor sua crença.
Tenho fé, mas pouca esperança. A comunicação é a pedra angular para conciliar qualquer divergência. Mas quando a força e o berro ganham aplausos, a luz do palco se apaga, e cada um corre para onde puder (se puder).
Começa em casa, quando a conversa do casal vira discussão. Começa com a educação do filho, onde os pais se colocam numa posição de superioridade, e se esquecem de ouvir e estabelecer confiança para amar e compreender.
Começa no ambiente laboral, no qual os detentores dos cargos elevados, não se importam em escutar os demais para formação de uma equipe colaborativa e promissora.
Começa na missa, no estádio de futebol, nos parques, nos espaços de lazer e cultura, sempre que olhamos com desdém e julgamos as pessoas sem conhecê-las. Começa no funeral de alguém conhecido, quando todos fingem que graças a Deus, não são eles quem estão sendo velados.
Sim, o ser humano precisa de terapia. Precisa ter a ousadia e a humildade para conhecer-se, aprender a falar consigo e amar-se. Este é o único caminho para exterminar qualquer tipo de preconceito e violência no convívio social. Não há saídas pelos cursos de coaches, não há fórmula milagrosa.
Há comprometimento ético, jurídico e político para que saibamos o nosso lugar no mundo. O lugar de todos é o mesmo lugar de sempre.
O lugar onde o respeito seja visto como valor, e a coletividade seja vista como realmente é, um sistema vivo e dinâmico no qual só sairemos vivos e vencedores, se soubermos dominar a arte de conversar.