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Brasileiros não se levam a sério, diz cientista político

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Mariana d'Abril/JC
Figueiredo no Café com Política, no JC, onde esteve com os amigos Caio Coube e Zezinho Martha
Figueiredo no Café com Política, no JC, onde esteve com os amigos Caio Coube e Zezinho Martha

O cientista político Rubens Figueiredo lançou no final de 2024 o livro "Sofrendo feliz da vida - Alegria e angústia de ser brasileiro", onde busca investigar um paradoxo da sociedade brasileira: como um País com altos índices de violência, desigualdade e problemas estruturais aparece tão bem colocado em rankings das nações mais felizes do mundo?

Essa singularidade foi abordada pelo autor, que realizou na última quinta-feira (15) uma sessão de autógrafos na livraria Empório Cultural, no Boulevard Shopping, em Bauru, cidade na qual morou até os 15 anos.

Segundo ele, o Brasil é um dos países com maior número de pessoas presas, com alto consumo de antidepressivos e uma das piores distribuições de renda do planeta. Mesmo assim, argumenta, o brasileiro segue feliz. "Temos uma afetividade muito maior do que outros povos. E há também fatores culturais, como a música e o futebol", explica.

A principal característica brasileira que capacita a população para encarar as tragédias é o bom humor, avalia. "O Brasil não se leva muito a sério. Isso ajuda muito", analisa. Ele relembra, inclusive, a forma como tratamos os ídolos nacionais. "A gente tira sarro do Neymar e do Rubinho, mesmo tendo números impressionantes". O cientista política aponta ainda que o Brasil, por ser altamente miscigenado, desenvolveu uma forma de sociabilidade única. Ele cita o sociólogo Samuel Huntington, que afirmava que o País não se encaixa totalmente na definição de Ocidente. "Não existe outro lugar que misturou indígenas, negros e europeu como nós misturamos. Dessa mistura saiu uma gastronomia rica, uma cultura singular e um jeito único de viver".

A obra discute também os diferentes tipos de felicidade, incluindo a chamada "felicidade dopamínica", ligada à expectativa de prazer. "Tem a felicidade do momento, tem a cultural e tem a felicidade sem explicação, aquela sensação boa que aparece do nada".

Além disso, ele vê a desigualdade como o cerne das mazelas brasileiras. "0,5% dos brasileiros ganha 20% da renda do País. Não existe paralelo na história. Nem na Roma antiga era assim. Um país assim não pode funcionar", explica.

As contradições exploradas no livro estão presentes, também, na política nacional. Figueiredo aponta a polarização como um dos entraves para o avanço do País. "A polarização é inimiga do raciocínio. Sociedades cheias de convicção são perigosas." O cientista avalia que a disputa entre Lula e Bolsonaro alimenta o populismo e dificulta reformas importantes no Estado — o grande problema do Brasil, na visão do autor. "É óbvio que o País precisa de um SUS e de educação gratuita. É óbvio que é necessário haver programas de rendas para os mais pobres. O que não pode acontecer é você gastar como um país europeu e ter os piores indicadores. Isso é falta de gestão.", afirma.

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