
“O colchão explodiu.” Esse foi o relato da criança de 5 anos, irmã da bebê de um ano e meio que morreu em decorrência de um incêndio ocorrido na casa da família, no Jardim Eldorado, em Bauru, no último sábado (7). No momento da tragédia, ela, o irmão de 3 anos e a caçula — que não resistiu — estavam sozinhos em casa, porque os pais haviam deixado o imóvel para comprar um bolo de aniversário para a primogênita.
Na mesma data, o casal foi preso por abandono de incapaz qualificado pelo resultado morte, cuja pena pode chegar a 12 anos de prisão. As crianças sobreviventes, por sua vez, foram socorridas e permaneceram aos cuidados de funcionários de um abrigo que devem acolhê-las. O filho do meio está internado no Hospital Estadual.
Já a mais velha recebeu alta da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e ou por escuta especializada na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), nesta segunda-feira (9). No entanto, não foi possível compreender com clareza o que ela tentava relatar. A hipótese é de que algum eletroeletrônico estivesse sobre o colchão. A menina negou, contudo, que fosse um celular, pois afirmou que o pai havia levado o aparelho com ele.
Durante a escuta, a criança também contou que a irmã mais nova desmaiou por causa do fogo, segundo a delegada Luciana Claro, responsável pela investigação. Outras oitivas devem ser realizadas na próxima quinta-feira (12). Até o momento, a delegada não dispõe de laudos que indiquem a origem do incêndio nem como ele teria começado.
15 minutos
Conforme divulgado pelo JCNET, o pai das crianças relatou à polícia que ele e a esposa — mãe dos três — se ausentaram do imóvel por um período entre 10 e 15 minutos para ir até uma confeitaria comprar doces. A intenção era comemorar, ainda que tardiamente por falta de recursos, os 5 anos da filha mais velha, segundo o boletim de ocorrência (BO).
Quando o casal retornou, encontrou a casa já tomada pela fumaça e o quarto das crianças em chamas. Ambos afirmaram que resgataram os filhos. A mãe saiu da residência com a bebê nos braços, aos gritos. A criança, desfalecida, chegou a ser reanimada pelos bombeiros, mas não resistiu. Os dois filhos mais velhos estavam conscientes quando foram socorridos, conforme relataram vizinhos.
Segundo os moradores, o desfecho poderia ter sido ainda mais trágico, caso os pais tivessem demorado mais cinco minutos para retornar — talvez nenhuma das crianças tivesse sobrevivido, como ocorreu com a mais nova.
Pelo que viram, após o combate às chamas por duas viaturas do Corpo de Bombeiros, acreditam que o incêndio possa ter começado com o derretimento de material plástico de algum eletrodoméstico conectado à tomada, que teria atingido o colchão.
Interdição
O pai das crianças chegou a levantar a hipótese de incêndio criminoso durante seu depoimento à Polícia Civil. A Defesa Civil esteve na residência e a interditou por conta do forte odor de plástico queimado. Moradores das imediações só perceberam o incêndio quando a mãe abriu a porta da casa e saiu gritando com a filha no colo, pois não era possível visualizar a fumaça do lado de fora.
Ainda segundo os vizinhos, é comum na região a queima de fios de cobre, o que pode ter contribuído para que o incêndio não fosse notado de imediato. Eles também afirmaram não ter ouvido gritos das crianças. Um dos moradores ficou com os doces comprados para a comemoração.
A família do casal ficou responsável por providenciar o sepultamento da bebê, realizado em outro município.