PEDIU ITENS

Ex-presidente do Fundo isenta Lúcia e cita igreja genérica

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Pedro Romualdo/Câmara de Bauru
CEI durante depoimento de Elisangela; colegiado é composto por André Maldonado, Sandro Bussola (presidente) e Beto Móveis, Pastor Bira e Dario Dudario (membros)
CEI durante depoimento de Elisangela; colegiado é composto por André Maldonado, Sandro Bussola (presidente) e Beto Móveis, Pastor Bira e Dario Dudario (membros)

Ex-presidente do Fundo Social de Solidariedade da Prefeitura de Bauru, a atual assessora do governo municipal Elisangela Cardoso do Prado disse que se referia a "igreja" de forma genérica ao tentar explicar uma mensagem enviada à ex-assessora da istração Damaris Pavan na qual pergunta "amiga, como vou levar o que separei? A igreja está precisando da potência e da mesa. Coloquei na sacola. Eu queria uns dois monitores de TV".

Todos os depoimentos desta terça negaram quaisquer participação da secretária de Assistência Social Lúcia Rosim, mãe da prefeita Suéllen e ex-presidente do Fundo Social, nas irregularidades mencionadas por Damaris e, mais do que isso, um deles indicou que a ex-comissionada chegou a desviar itens para levá-los à casa da mãe (leia mais abaixo).

Segundo Elisangela, que prestou depoimento na manhã desta terça-feira (10) à Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga possíveis desvios no Fundo Social, os itens que ela disse ter colocado na sacola, mensagem encaminhada logo na sequência à informação de que "a igreja tá precisando da potência e da mesa", eram na verdade roupas de cama.

"Quando eu falo 'separei', quando eu falo no tocante à sacola é porque tinham sido separados alguns itens de roupa de cama. Tanto que eu não tinha o, porque ela abriu e disse 'tem isso aqui' e que uma pessoa está precisando", afirmou Elisangela enquanto se referia à sala onde eram armazenados esses itens. De acordo com a ex-presidente do Fundo, esse local era um depósito de materiais considerados inservíveis.

Já com relação à mensagem na qual diz que "a igreja está precisando da potência e da mesa [de som]", Elisangela afirmou que a declaração está fora de contexto e que não se referia a nenhuma instituição religiosa em específico. Sobre o texto em que diz querer "uns dois monitores de TV", afirmou que são aparelhos instalados no gabinete da prefeita Suéllen.

"Quando eu falo da doação da mesa, que 'a igreja precisa da mesa e do som', eram itens que estavam lá. Como eu falei, eles estavam dentro de um quartinho que, a priori, ela [Damaris] tinha posto como quartinho de inservível e isso não podia ficar junto com as comidas que estavam armazenadas embaixo", disse a ex-presidente do Fundo.

Ainda de acordo com ela, a mensagem que encaminhou indicando que "a igreja tá precisando da potência e mesa" guarda relação com um diálogo pessoal travado com Damaris anteriormente. "Ela fala: 'Quem utiliza [esses equipamentos]'? Eu pontuo com ela aqui: 'Quem poderia fazer a utilização? Onde você vai usar uma potência, uma mesa de som?' A não ser, eu falei, a 'igreja'", disse em depoimento à CEI.

"Não estou falando igreja minha, nem igreja A B ou C. O contexto é fruto da conversa que eu tive anteriormente com ela. Então o fato de eu citar isso não significa que eu estava pedindo para minha igreja ou direcionando para determinado tipo de igreja. Eram itens que poderiam ser utilizados em qualquer igreja que tivesse necessidade, né, de uso de som", acrescentou, para posteriormente ressaltar que não prioriza instituições religiosas nas doações.

De toda sorte, afirmou Elisangela, o fato de essa conversa ter se tornado pública não é novidade, segundo ela. "Assim que eu me torno presidente do Fundo, a primeira coisa que ela [Damaris] fez foi ar a me ameaçar com esse tipo de mensagem", explicou.

Os integrantes da CEI questionaram sobre se há algum registro disso. Elisangela disse ter comentado com parentes e pessoas próximas, mas que não formalizou a ocorrência porque não via nisso um risco à sua vida.

Elisângela também foi indagada a respeito de uma mensagem na qual disse a Damaris para ficar tranquila porque "as únicas coisas que vc fez no fundo que não devia foi ela quem mandou (sic)" - numa referência à mãe da prefeita, Lúcia Rosim, atual secretária de Assistência Social, sobre quem haviam conversado minutos antes.

A ex-presidente do Fundo, porém, disse que não poderia explicar o conteúdo dessas declarações porque não se lembra do contexto no qual elas se inseriam. "Acho que ninguém mandou a Damaris fazer algo de errado. A gente está dentro de uma afirmação que aconteceu em 2022. Não posso descrever porque não tenho o contexto", citou.

CONTROLE

Ainda nesta terça, a CEI ouviu também a ex-assessora de gabinete Andrea Storolli, que exerceu atividades istrativas no Fundo Social. Ela disse não ter conhecimento sobre irregularidades envolvendo Lúcia Rosim.

Storolli relatou que havia exigência de que entradas e saídas de itens recebidos e posteriormente doados pela instituição fossem documentadas, mas que em épocas de campanha de doações isso era afrouxado - segundo ela, não havia como contabilizar item por item ante a quantidade recebida.

Segundo ela, contudo, houve episódios em que não havia registro. Ao que relatou a ex-assessora, isso ocorria quando munícipes que pediam cestas não se lembravam do número de seus respectivos documentos - nestes casos, dava-se apenas 'baixa' nos itens que saíam do órgão, sem indicar para onde foram.

Ela afirmou que diversas empresas, além da Polícia Civil e da Receita Federal, faziam doações ao Fundo. Disse não se lembrar de itens específicos, mas relatou o recebimento de celulares da Receita Federal que teriam sido destinados diretamente à Secretaria do Bem-Estar Social (hoje Secretaria de Assistência Social) para que fossem doados a estudantes. Não mencionou, porém, o destino final desses aparelhos.

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