Após quase cinco anos fechado, o Teatro Municipal "Celina Lourdes Alves Neves", em Bauru, reabre suas portas. A atual istração municipal promove o retorno das atividades como uma "reinauguração", tentando vender como conquista aquilo que, na verdade, é um retrato do abandono. k6q6d
O teatro foi fechado em 2020, inicialmente por conta da pandemia. Mas, ada a fase crítica da crise sanitária, ele permaneceu inível à população. A justificativa oficial era a necessidade de reformas, incluindo a troca do sistema de ar-condicionado, que já estava obsoleto há anos. No entanto, as obras foram sucessivamente proteladas. Em 2022, a própria prefeitura afirmou que a climatização só estaria pronta em 2023 — e mesmo essa previsão não se concretizou no prazo. O processo de contratação da empresa para executar a obra só foi concluído em setembro de 2024.
Ou seja, o fechamento se deu, em boa parte, por má gestão — não por razões técnicas intransponíveis. A reabertura, portanto, não é fruto de um grande projeto ou de compromisso com a cultura, mas de uma cobrança acumulada da sociedade e do setor artístico, cansados de esperar o mínimo.
O mais grave, no entanto, não está apenas na demora. Está na maneira como a atual istração tem tratado a cultura como um apêndice incômodo. Editais mal elaborados, recursos devolvidos por falta de execução, ações organizadas às pressas e sem diálogo. O carnaval deste ano exemplifica isso: as escolas de samba receberam parte da verba apenas poucas horas antes do início dos desfiles. Um desrespeito com quem trabalha o ano inteiro para manter viva a tradição.
O sambódromo municipal segue abandonado, e os artistas da cidade vivem a incerteza constante diante de políticas públicas frágeis, improvisadas ou inexistentes. O que se vê não é descaso eventual — é um projeto silencioso de desmonte da cultura. Um projeto que não tem coragem de se anunciar como tal, mas que se revela nas omissões, nos adiamentos, nos cancelamentos e nas oportunidades perdidas. E agora, tentam transformar tudo isso em "reinauguração". Como se a espera absurda fosse parte de um processo normal. Como se a ineficiência fosse detalhe. Como se estivéssemos todos prontos para bater palmas como se nada tivesse acontecido.
Sim, queremos o teatro aberto. Queremos ver peças, shows, debates e atividades acontecendo naquele espaço. Mas não aceitamos que se mascare a negligência com fita de inauguração e discurso vazio. A cultura de Bauru merece respeito, investimento contínuo, e acima de tudo, compromisso real.
Reinauguração? Me poupe. A cidade merece muito mais do que isso.