
Campinas vive, mais uma vez, uma epidemia de dimensões alarmantes. Já são mais de 31 mil casos confirmados de dengue em 2025, em pleno mês de maio, o que já garante ao ano o posto de 4ª maior epidemia da série histórica da Secretaria Municipal de Saúde. Os alertas se acumulam — e, ainda assim, a sensação dominante é de apatia.
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A tragédia anunciada já não choca. Em 2024, foram 121 mil casos e 92 mortes, um marco trágico na história de Campinas. A cidade que viu filas nas unidades de saúde, leitos abarrotados e famílias devastadas, parece agora naturalizar a barbárie sanitária. Há, sim, ações sendo realizadas pelo poder público — bloqueios, nebulizações, boletins semanais, campanhas em mídias — mas o que chama atenção é a falta de reação da sociedade. Como se tivéssemos aceitado viver com o mosquito e suas consequências, entregues à lógica do inevitável.
O boletim mais recente da Prefeitura classifica 22 bairros como áreas de alto risco, mas o número é um detalhe em um mar de desatenção coletiva. As campanhas batem nas mesmas teclas de sempre — “elimine criadouros”, “vire as garrafas”, “não acumule lixo” — mas essas mensagens, hoje, já não mobilizam como deveriam. O que se vê, ano após ano, é a manutenção do entulho nas calçadas, terrenos baldios tomados pelo mato e até piscinas abandonadas, como se fossem parte da paisagem urbana.
A luta pela vacinação também minguou, e não por culpa exclusiva do governo. O interesse popular nunca existiu com uma procura fraca pelo imunizante. Poucos falam, poucos cobram. E isso, talvez, seja o retrato mais simbólico da atual fase da epidemia: um torpor coletivo, como se a sociedade tivesse se cansado de reagir. Um tipo de resignação anestesiada, perigosamente próxima da indiferença.
Essa não é uma crítica à gestão pública isoladamente, mas uma crítica à soma de omissões — da política, da comunicação, dos meios de educação em saúde e, sobretudo, da própria população, que parece não mais se indignar. E quando uma cidade para de se indignar com milhares adoecendo por uma doença evitável, ela corre o risco de perder algo ainda mais grave: sua capacidade de reagir coletivamente.
No fundo, o Aedes aegypti se tornou mais do que um vetor biológico — é o símbolo de um país que se acostuma com o inaceitável.
Os os da Comissão Processante
Foto: FPX Cast
A Comissão Processante () aberta na Câmara de Campinas para investigar o vereador Vini Oliveira (Cidadania) entra em fase decisiva na próxima semana. A denúncia que deu origem ao processo aponta possível quebra de decoro parlamentar em razão da forma considerada agressiva como Vini fiscalizou o atendimento de médicos no Hospital Mário Gatti no primeiro dia de seu mandato.
A denúncia foi aceita por 23 vereadores, e a foi instaurada com Nelson Hossri (PSD) como relator, a vereadora Mariana Conti (PSOL) como presidente e o vereador Nick Schneider (PL) como membro.
Durante participação no FPX Cast, Hossri confirmou que Vini tem até esta segunda-feira para apresentar sua defesa prévia. Após isso, a comissão deverá elaborar um pré-relatório com base no que foi apresentado. “Se ele trouxer algo novo, que mude o rumo dos fatos, isso pode influenciar a decisão da comissão sobre continuar ou não com a instrução”, explicou o relator.
Hossri reforçou que nesta etapa a comissão não julga o mérito do caso, apenas analisa se há elementos suficientes para seguir com a apuração. Caso a opte pelo arquivamento, a decisão irá ao plenário da Câmara, que votará pelo encerramento ou continuidade do processo. Já se a comissão decidir pela continuidade da instrução, o caso prossegue com a oitiva de testemunhas, possibilidade de acareações e coleta de provas, sem necessidade de nova deliberação em plenário.
Se for considerado culpado, Vini pode ter o mandato cassado.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].