POLÍTICA

Flávio Paradella: A dengue cresce e sociedade adormece

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 3 min
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Campinas vive sua 4ª maior epidemia de dengue da história. E o que mais assusta não é só o mosquito — é a apatia coletiva diante da tragédia anunciada.
Campinas vive sua 4ª maior epidemia de dengue da história. E o que mais assusta não é só o mosquito — é a apatia coletiva diante da tragédia anunciada.

Campinas vive, mais uma vez, uma epidemia de dimensões alarmantes. Já são mais de 31 mil casos confirmados de dengue em 2025, em pleno mês de maio, o que já garante ao ano o posto de 4ª maior epidemia da série histórica da Secretaria Municipal de Saúde. Os alertas se acumulam — e, ainda assim, a sensação dominante é de apatia.

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A tragédia anunciada já não choca. Em 2024, foram 121 mil casos e 92 mortes, um marco trágico na história de Campinas. A cidade que viu filas nas unidades de saúde, leitos abarrotados e famílias devastadas, parece agora naturalizar a barbárie sanitária. Há, sim, ações sendo realizadas pelo poder público — bloqueios, nebulizações, boletins semanais, campanhas em mídias — mas o que chama atenção é a falta de reação da sociedade. Como se tivéssemos aceitado viver com o mosquito e suas consequências, entregues à lógica do inevitável.

O boletim mais recente da Prefeitura classifica 22 bairros como áreas de alto risco, mas o número é um detalhe em um mar de desatenção coletiva. As campanhas batem nas mesmas teclas de sempre — “elimine criadouros”, “vire as garrafas”, “não acumule lixo” — mas essas mensagens, hoje, já não mobilizam como deveriam. O que se vê, ano após ano, é a manutenção do entulho nas calçadas, terrenos baldios tomados pelo mato e até piscinas abandonadas, como se fossem parte da paisagem urbana.

A luta pela vacinação também minguou, e não por culpa exclusiva do governo. O interesse popular nunca existiu com uma procura fraca pelo imunizante. Poucos falam, poucos cobram. E isso, talvez, seja o retrato mais simbólico da atual fase da epidemia: um torpor coletivo, como se a sociedade tivesse se cansado de reagir. Um tipo de resignação anestesiada, perigosamente próxima da indiferença.

Essa não é uma crítica à gestão pública isoladamente, mas uma crítica à soma de omissões — da política, da comunicação, dos meios de educação em saúde e, sobretudo, da própria população, que parece não mais se indignar. E quando uma cidade para de se indignar com milhares adoecendo por uma doença evitável, ela corre o risco de perder algo ainda mais grave: sua capacidade de reagir coletivamente.

No fundo, o Aedes aegypti se tornou mais do que um vetor biológico — é o símbolo de um país que se acostuma com o inaceitável. 

Os os da Comissão Processante


Foto: FPX Cast

A Comissão Processante () aberta na Câmara de Campinas para investigar o vereador Vini Oliveira (Cidadania) entra em fase decisiva na próxima semana. A denúncia que deu origem ao processo aponta possível quebra de decoro parlamentar em razão da forma considerada agressiva como Vini fiscalizou o atendimento de médicos no Hospital Mário Gatti no primeiro dia de seu mandato.

A denúncia foi aceita por 23 vereadores, e a foi instaurada com Nelson Hossri (PSD) como relator, a vereadora Mariana Conti (PSOL) como presidente e o vereador Nick Schneider (PL) como membro.

Durante participação no FPX Cast, Hossri confirmou que Vini tem até esta segunda-feira para apresentar sua defesa prévia. Após isso, a comissão deverá elaborar um pré-relatório com base no que foi apresentado. “Se ele trouxer algo novo, que mude o rumo dos fatos, isso pode influenciar a decisão da comissão sobre continuar ou não com a instrução”, explicou o relator.

Hossri reforçou que nesta etapa a comissão não julga o mérito do caso, apenas analisa se há elementos suficientes para seguir com a apuração. Caso a opte pelo arquivamento, a decisão irá ao plenário da Câmara, que votará pelo encerramento ou continuidade do processo. Já se a comissão decidir pela continuidade da instrução, o caso prossegue com a oitiva de testemunhas, possibilidade de acareações e coleta de provas, sem necessidade de nova deliberação em plenário.

Se for considerado culpado, Vini pode ter o mandato cassado.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].

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