
A temperatura na Câmara de Campinas parecia ter baixado. A base do governo, que em um primeiro momento deu aval para a abertura da Comissão Processante () contra o vereador Vini Oliveira (Cidadania), havia voltado a operar em modo de normalidade institucional, com direito até à participação do próprio parlamentar como secretário da mesa diretora. Mas a paz minguou.
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Nesta segunda-feira (20), Vini resolveu atacar — e o fez de forma oficial. Sua defesa protocolada não só voltou a sustentar os argumentos já esperados de legalidade da atuação no Hospital Mário Gatti, como também mirou diretamente o relator da , o vereador Nelson Hossri (PSD), apontando-o como parcial e pedindo o arquivamento imediato do processo. Uma guinada no comportamento recente do vereador, que parecia buscar recompor pontes para evitar um desfecho mais drástico.
A escolha da linha combativa pode ter consequências políticas importantes. Até então, havia uma leitura consolidada nos bastidores de que o cenário era de “sinal amarelo” para Vini — não havia disposição clara da base para levá-lo à cassação, mas também não havia defesa política consistente a seu favor. Era como se houvesse espaço para que o processo servisse como uma advertência, e não como uma condenação.
Mas ao bater de frente com o relator, a defesa reacende os atritos. A figura de Hossri não desperta muitos amores na base, mas tem peso entre setores mais conservadores da Câmara, e a tentativa de deslegitimar sua condução da pode ser vista como provocação gratuita. E aqui está o ponto crucial: Vini já coleciona desafetos em quase todos os blocos ideológicos da Casa.
A esquerda o repudia por seus ataques ao IFCH da Unicamp e pelo alinhamento recente com perfis bolsonaristas nas redes. A direita mais tradicional o vê com desconfiança, considerando-o oportunista e pouco confiável. E os governistas — que haviam oferecido um “respiro institucional” — podem se incomodar novamente com o estilo errático e imprevisível do vereador, que parece oscilar entre o personagem da provocação e o da composição, sem muita coerência.
O ataque a Hossri também não é novo. Logo após a formalização da , mensagens enviadas pelo celular de Vini circulavam com menções ao relator. À época, o gabinete negou críticas e tentou conter o desgaste. Agora, formalizou tudo em uma peça jurídica — o que, para muitos, soa como um erro estratégico. A expectativa era de que a poeira baixasse. Vini, ao contrário, jogou mais lenha no fogo.
Nos bastidores, o desconforto cresce. O clima, que era de cautela e moderação, volta a ser de instabilidade e ruído. Mesmo os que não simpatizam com Hossri reconhecem que a peça de defesa pode partir a pouca boa vontade.
A única certeza neste momento é que o futuro político de Vini permanece em aberto.
Reação
Após a publicação da coluna, o vereador Nelson Hossri enviou uma mensagem sobre o atual momento de retomada de atritos. "É perceptível que, em vez de apresentar uma defesa objetiva, o denunciado tem se concentrado em manifestações contra o relator, o que em nada contribui para o esclarecimento dos fatos. Tal postura, além de deslocar o foco do mérito da denúncia, transmite à sociedade sinais de desespero, quando o momento exige serenidade e responsabilidade", afirmou.
Vini, a cassação e 2026 no radar
O futuro de Vini Oliveira (Cidadania) segue indefinido na Câmara de Campinas, mas há um fator que não pode ser descolado do xadrez político: a eleição de 2026. O jovem vereador, que em sua primeira disputa obteve expressivos 14 mil votos — o segundo mais votado da cidade —, é visto como um ativo eleitoral valioso por diversas legendas. Seus vídeos nas redes, de tom agressivo ou não, transbordam os limites de Campinas e o colocam como um nome com alto potencial de transferência de votos, especialmente entre o eleitorado jovem e conservador.
Nos bastidores, partidos com ambição de ampliar bancadas estaduais ou federais já colocam Vini na mira. O interesse vai além do nome: ele representa a possibilidade real de alavancar quocientes eleitorais e garantir cadeiras extras. Por isso, para muita gente graúda de fora da Câmara — mas com influência nos bastidores —, descartar Vini agora seria desperdiçar munição de peso para o ano que vem.
A base legislativa até agora parecia inclinada a um “presta atenção”, mas com a defesa agressiva e os ataques ao relator da , o cenário pode mudar. Ainda assim, há quem pese o custo político de cassar um fenômeno de votos — não por simpatia, mas por cálculo eleitoral. 2026 já começou. E Vini, mesmo na berlinda, ainda é peça cobiçada no tabuleiro.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].