PROTEÇÃO

MPF quer demolição de quiosques na areia em praias do Rio

Por Aléxia Sousa | da Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Google Street View
Clássico Beach Club, no Posto 10 de Ipanema, está entre os alvos do MP
Clássico Beach Club, no Posto 10 de Ipanema, está entre os alvos do MP

O MPF (Ministério Público Federal) entrou com uma ação civil pública para barrar a expansão e exigir a demolição de estruturas que avançam sobre a faixa de areia das praias de Ipanema e do Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro.

Na mira estão três estabelecimentos com características de beach clubs, além da União e do município do Rio, que, segundo o MPF, autorizaram o funcionamento dos quiosques mesmo com irregularidades apontadas por órgãos de patrimônio e meio ambiente.

A ação, protocolada no dia 6 de maio, ocorre em meio a uma disputa crescente sobre o uso da orla carioca, acirrada recentemente por um decreto da prefeitura que impôs novas regras de ordenamento, incluindo a proibição de música nos quiosques e no calçadão.

Segundo o MPF, os empreendimentos ocupam de forma indevida áreas públicas, de domínio da União, e situadas em uma unidade de conservação federal - a APA (Área de Proteção Ambiental) da Orla Marítima. Entre os alvos estão os quiosques Sel D'Ipanema, no Posto 9, e Clássico Beach Club, no Posto 10, além de um terceiro em implantação.

A reportagem fez contato com a Orla Rio, responsável pelos estabelecimentos, mas não obteve retorno até a publicação deste texto.

O procurador da República Renato Machado, autor da ação, afirma que os empreendimentos não seguem o modelo padronizado para a orla e foram erguidos sem autorização da Secretaria de Patrimônio da União e do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

O Iphan, no entanto, afirma que não precisou conceder autorização para as intervenções. Em nota, o instituto informou que as obras não ocorrem em entorno de bem tombado federal nem integram o Sítio Patrimônio Mundial Paisagens Cariocas entre a Montanha e o Mar ?que exclui a exigência de consulta prévia ao órgão.

Procuradas, a Prefeitura do Rio e a Secretaria de Patrimônio da União ainda não se manifestaram.

Pareceres técnicos e vistorias realizadas em abril e maio de 2023 confirmaram que as construções invadem a faixa de areia ?uma área pública de uso comum- e causam impacto negativo na paisagem urbana e no meio ambiente.

Os laudos apontam que houve aumento de até 15 vezes na área construída, incluindo estruturas como subsolo, cercas, ombrelones e mobiliário fixo, que criam espaços de uso exclusivo em local de o público.

Um dos quiosques, segundo o MPF, chegou a alegar que o deslocamento da estrutura se deu por causa da presença de galerias pluviais sob o calçadão, justificativa que foi considerada infundada por técnicos.

A ação tem caráter liminar e solicita a interrupção imediata de novas obras, além da retirada das estruturas já implantadas e da restauração ambiental das áreas degradadas.

O MPF ressalta também um tratamento desigual do poder público. Enquanto o Decreto Municipal 50.671/2022 proíbe o uso de caixas de som por banhistas e músicos de rua, os beach clubs, segundo o MPF, têm promovido eventos com DJs e música alta, com anuência da prefeitura.

"O que se observa na prática é que os beach clubs não são destinados ao público em geral frequentador da orla, e seguem um modelo importado da Europa, onde as praias são privadas, o que não se coaduna com o sistema jurídico brasileiro", afirmou o procurador.

A ação aguarda decisão judicial. À reportagem a Justiça Federal do Rio de Janeiro informou que o processo foi distribuído para a 15ª Vara Federal do Rio, que mandou intimar a União e o município para se manifestar, antes de analisar o pedido de liminar.

No último dia 16, a gestão Eduardo Paes (PSD) publicou decreto que impôs 16 proibições nas praias e calçadões da cidade, como uso de som, venda de bebidas em garrafas de vidro, circulação de patinetes motorizados, instalação de estruturas comerciais não autorizadas e formação de cercadinhos com cadeiras e guarda-sóis. Apenas eventos previamente autorizados podem ter música.

Na ocasião, Paes afirmou que as novas regras têm como objetivo preservar a ordem urbana, a segurança e o meio ambiente.

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