POLÍTICA

Flávio Paradella: a repetição do caos na saúde

Por Flávio Paradella | Especial para a Sampi Campinas
| Tempo de leitura: 4 min
Caius Lucilius/HC Unicamp
Leitos lotados, pacientes nos corredores e emergência em colapso; o HC da Unicamp operava com 500% de ocupação
Leitos lotados, pacientes nos corredores e emergência em colapso; o HC da Unicamp operava com 500% de ocupação

Todo ano é igual. Chega maio, avança junho, e o noticiário se repete: hospitais lotados, corredores improvisados com macas e emergências à beira do colapso. Não é novidade. E justamente por não ser, torna-se mais grave. A superlotação dos hospitais de Campinas virou um roteiro conhecido — e negligenciado — pelo poder público e, em parte, pela sociedade.

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Os números desta semana escancaram a realidade. O Hospital de Clínicas da Unicamp, com capacidade para 20 leitos de emergência, operava com 97 pacientes internados nesta quarta-feira. Ocupação de 500%. A situação não é melhor em outra importante unidade, o hospital da PUC-Campinas tinha 70 pacientes para apenas 20 leitos. Na Rede Mário Gatti, o sistema oscilava entre 95% e 100% de ocupação. É o colapso anunciado.

Sim, há problemas estruturais. Os recursos são escassos e a gestão pública, sobrecarregada. Mas também há uma previsibilidade ignorada. Maio, junho e julho são meses clássicos de aumento de doenças respiratórias. Some-se a isso os atendimentos de rotina — câncer, infartos, AVCs — e o volume crescente de traumas causados por um trânsito violento e desorganizado. E, como se não bastasse, temos a quarta maior epidemia de dengue da história da cidade, com mais de 35 mil casos já registrados em 2025.

É fácil apontar o dedo. Mais difícil é assumir a parte que nos cabe. E faço aqui a mea culpa. A vacina contra a gripe, gratuita e disponível em todos os postos de saúde, é uma das poucas ferramentas de prevenção reais neste momento. E mesmo assim, a adesão é vergonhosamente baixa. Eu mesmo ainda não fui me vacinar. Reconheço o erro. Se queremos minimizar o estrago, o mínimo é fazer nossa parte.

A inércia é coletiva. A gestão precisa planejar melhor, com protocolos emergenciais, mapeamento de risco e mais diálogo entre as redes. Mas a sociedade também precisa se mover. Ignorar uma fila de espera lotada no HC ou na PUC é fingir que não somos parte do problema.

Campinas não pode mais normalizar o colapso. E nem continuar a cada outono/inverno com cara de surpresa. O sistema já mostrou que não aguenta mais. O que falta é a gente entender que também somos responsáveis.

Frente contra violência digital nas escolas

A Assembleia Legislativa de São Paulo lança no dia 10 de junho, terça-feira, às 18h30, a Frente Parlamentar de Combate à Violência em Ambiente Digital contra Crianças e Adolescentes. O colegiado, coordenado pelo deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania-SP), terá como prioridade a produção de um estudo técnico com recomendações para o governo estadual sobre o enfrentamento ao bullying e aos crimes virtuais em escolas públicas.

A cerimônia ocorre no auditório Paulo Kobayashi, na sede da Alesp, em São Paulo. Após o lançamento, serão formados grupos temáticos multidisciplinares, com profissionais das áreas de Direito, Saúde, Educação, Segurança Pública e Psicologia, para identificar falhas no sistema e apontar caminhos para a prevenção da violência digital.

O estudo final será entregue ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e reunirá estatísticas sobre crimes cibernéticos, além de propor ações de combate ao aliciamento, estupros virtuais, desafios autodestrutivos e incitação ao ódio e misoginia nas redes sociais.

Além da coordenação de Rafa, o colegiado atuará em conjunto com o Instituto Aegis, presidido por Luís Guilherme de Sá, e contará com o monitoramento da jornalista Carla Albuquerque, referência no tema. Participam ainda a advogada Tanila Savoy, da Associação Nacional das Vítimas de Internet (Anvint), os juristas Carolina Di Fillipi e Luciano Santoro, além da delegada Lisandrea Zonzini Salvariego Colabuono, do Núcleo de Observação e Análise Digital (Noad) da Secretaria de Segurança Pública.

O time da Frente também inclui os psiquiatras Felipe Becker e Hewdy Lobo Ribeiro, a jornalista e educadora Carla Georgina e a especialista em marketing digital com foco em saúde mental Samantha Plonczynski.

Para Rafa, é urgente agir diante da escalada de conteúdos nocivos direcionados ao público jovem. “Vamos combater fortemente o estímulo a agressões virtuais, ao automutilamento, a desafios fatais e à misoginia. Estes conteúdos aparecem disfarçados de humor ou liberdade de expressão e estão dessensibilizando nossas crianças”, afirmou o parlamentar.

  • Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].

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