Indignado com a falta de conscientização e cidadania de muitos moradores da região, o agricultor aposentado Marcos Antônio de Andrade construiu um canteiro de flores e plantas na avenida Eliza Verzola Gosuen j67c
Em mais um dia normal de trabalho, voltando de uma reportagem com o fotógrafo Dirceu Garcia, notei um homem que trabalhava em um dos canteiros centrais da Avenida Eliza Verzola Gozuen, no bairro Ângela Rosa, mesma via do jornal. Naquele momento estávamos com o horário apertado e a matéria que tínhamos acabado de fazer tinha que ser escrita. Fomos embora, mas a imagem daquele senhor mexeu conosco. Ainda com aquela imagem na cabeça, decidimos voltar outro dia para tentar descobrir quem era aquele senhor que cuidava com tanta delicadeza e amor de um canteiro de uma avenida pública.
Voltamos até o local e encontramos o “seu” Marcos sentado tranquilo em uma calçada, observando a paisagem e quem ava pela avenida. Questionamos se era ele quem cuidava do canteiro. Para nossa sorte, era ele mesmo, aquele mesmo senhor que tínhamos visto tão carinhosamente cuidando das plantas no outro dia. Todo orgulhoso, ele se levantou da cadeira e pediu para que nós atravessássemos a avenida para irmos ver seu canteiro.
Vem, vem ver! Eu que plantei tudo isso. Aqui só tinha lixo, filho, agora tá lindo!
Logo após ele mostrar o canteiro e a praça ao lado, pedimos para conversar com ele e entender um pouco mais o porquê daquela atitude. Dali em diante conhecemos a história do agricultor aposentado Marcos Antônio de Andrade, de 74 anos.
Eu moro aqui há mais de 37 anos. As pessoas sempre jogavam lixo e entulho ali. Eu sempre ficava indignado, chegava até a discutir. O pessoal saia das casas com as sacolas de lixo na mão e tacavam ali. Rapaz, parece que ali era o lixão do bairro. Lixos de casa, móveis antigos, tinha de tudo.
Com uma pequena dificuldade de andar, devido a um acidente de trabalho há cerca de seis anos, depois de um dia com muitos entulhos no canteiro e um atropelamento de um cachorro que ficou morto por ali, decidiu tomar uma providência para acabar com o “depósito” de lixo.
Pedi um táxi e fui para a porta da prefeitura. Conversei com o vereador Nirley e com o Carlinhos da Farmácia e avisei: ‘se vocês não limparem aquilo(lixo) hoje eu vou capinar tudo e vou jogar tudo na porta da prefeitura.’ Sou meio sem juízo... (sic)Marcos conta que quando chegou em casa o terreno já estava limpo e, naquele momento, decidiu que naquele lugar ninguém jogaria mais lixo.
Tinha um morador de rua que sempre ava aqui na porta, perguntei se ele sabia onde tinha alguma placa, porque iria usá-la para colocar no canteiro. Logo ele apareceu e ainda escreveu na placa: ‘Proibido Jogar lixo’.
Marcos então pediu para um amigo que o ajudasse a montar um canteiro de flores ali, pois acreditava que as pessoas parariam de jogar lixo. José Vanderlei, o Vando, o ajudou com algumas mudas e com madeiras para cercar onde ele plantaria.
A mulher do Vando comprou umas mudas e eu e ele fomos plantar. Limpamos o canteiro, roçamos a praça e em uma catada só, juntamos 15 sacos de entulhos. Aí limpei tudo e comecei a plantar as mudas. Elas foram crescendo, mas mesmo assim as pessoas avam por lá e pisavam nelas. Então comecei a cercar, agora tá lindo.
O aposentado contou que mesmo com o canteiro cercado tem pessoas que destroem as plantas tirando as flores de qualquer jeito
Ainda tem gente que arranca as flores, eu não entendo. Porque elas não levam embora, (só) arrancam e jogam ao lado. Fico triste, mas agora eu olho todos os dias.
A prefeitura ajuda o aposentando nas épocas de estiagem regando as plantas duas a três vezes por semana, já que ele tem um problema nas costas. Naquele canteiro cheio de vida, criado pelo “seu” Marcos, com ipês, roseiras e até um pé de café, conseguimos ver e sentir o que uma pessoa com boas ações pode fazer por um canteiro, por um bairro, por uma cidade. Não sei se as milhares de pessoas que am por ali diariamente já pararam para perceber o que existe, mas é algo que todos deveriam olhar.