O cenário político brasileiro de 2025 expõe de forma definitiva a implosão da direita promovida pelo próprio Jair Bolsonaro. Desde sua ascensão como o grande nome do antipetismo até seu inevitável declínio, Bolsonaro não apenas traiu os valores que dizia defender, mas também entregou a direita à desorganização, ao fisiologismo e ao despreparo. Pior: tudo isso sem qualquer perspectiva de futuro, apenas garantindo que, após sua queda, o Partido dos Trabalhadores voltasse ao poder. 585f59
A trajetória de Bolsonaro já era previsível para quem observava com atenção. Seu governo não foi estruturado para consolidar uma direita reformista, republicana e com planos de longo prazo, mas sim um projeto de poder personalista e familiar. Sua relação com a Lava Jato é o maior exemplo disso: enquanto se elegeu surfando na onda do combate à corrupção, foi ele quem sabotou a operação para proteger seus próprios aliados e seus filhos. O resultado? A completa destruição da maior operação anticorrupção da história do Brasil e a impunidade generalizada para políticos corruptos.
Com Lula novamente no poder, o resultado da traição de Bolsonaro se torna ainda mais evidente. Mas o que chama atenção é como ele mesmo se tornou um dos principais responsáveis pelo enfraquecimento da direita, ao invés de construir um projeto sólido para derrotar o petismo. Seu envolvimento com figuras do submundo da política, como Valdemar Costa Neto, condenado e preso no escândalo do mensalão ao lado de José Dirceu, evidencia a capitulação completa de um político que prometia romper com o sistema. Hoje, Bolsonaro está refém de Valdemar e do PL, dependendo financeiramente e politicamente de um cacique que já articula sua própria sobrevivência no cenário pós-Bolsonaro. Valdemar não tem qualquer compromisso com o futuro da direita, apenas com sua própria influência e seus negócios dentro do Centrão.
Evidência disso foi a votação recente na Câmara dos Deputados que garantiu a eleição de Hugo Motta, um aliado do PT, para a presidência da Casa. Parlamentares bolsonaristas, a mando de Bolsonaro e Valdemar, votaram no candidato de Lula, escancarando de vez a farsa da suposta "maior oposição que o país já viu".
Enquanto isso, qualquer tentativa de formação de uma direita independente e coerente é sabotada internamente por esses mesmos bolsonaristas, que taxam como traidor e "comunista" qualquer um que ouse mostrar o óbvio.
O despreparo desses parlamentares chega a ser cômico, se não fosse trágico. Disputam entre si para ver quem viraliza mais nas redes com um debate razo sobre pautas morais, enquanto se mostram completamente ineficazes no Congresso. Seus discursos são vazios, suas votações são erráticas e sua única estratégia política é defender Bolsonaro, que, por sua vez, não tem mais qualquer plano além de evitar sua própria prisão. Esse grupo não faz oposição de verdade ao governo Lula, apenas sobrevive de um teatro permanente para a base mais fiel do bolsonarismo.
O pêndulo político sempre se move, e a história recente mostra que a rejeição a governos incompetentes leva a reviravoltas. Em 2016 e 2018, foi o PT que experimentou esse movimento, perdendo espaço para uma nova direita que se apresentava como alternativa. Desde 2022, esse mesmo pêndulo se volta contra Bolsonaro e os que se alinham cegamente a ele. E se essa direita não se reorganizar rapidamente, será arrastada junto com ele para o esquecimento.
A verdade que poucos bolsonaristas querem itir é que Bolsonaro não tem futuro político. Seu destino é ser preso, e não por ser um mártir da liberdade, mas por seus próprios erros e acordos espúrios. Quando isso acontecer, todos os seus "aliados" que hoje se dizem leais já terão seguido adiante, negociado novos espaços e deixado o capitão para trás (aí está o grande mal de se cercar de mercenários). E quem sofrerá as consequências será a direita, que continuará sem uma liderança forte e sem um projeto político real, deixando o caminho livre para Lula e sua sucessão dentro do PT.
Se quisermos que a direita sobreviva a esse desastre, é urgente que uma nova liderança surja - não só para o pleito de 2026, mas para revigorar os ânimos de uma direita cansada e perdida. Alguém que compreenda que política não se faz apenas com gritaria e populismo barato, mas com estratégia, inteligência e comprometimento com reformas reais. Alguém que não dependa de conchavos com corruptos e que possa representar uma oposição verdadeira ao projeto petista. Se a direita não tomar essa decisão agora, ará anos marginalizada, carregando o peso de um líder caído e completamente desmoralizado.
A questão que fica é simples: vamos permitir que Bolsonaro leve toda a direita consigo para o abismo, ou teremos coragem para romper com esse ciclo e construir algo sólido? O tempo está se esgotando, e o futuro da oposição no Brasil depende da resposta a essa pergunta.
Miguel Francisco é coordenador do Movimento Brasil Livre, estudante de direito na UNESP de Franca e colunista no portal GCN.