Profissionalismo criminoso que movimentava milhões de reais e agia com violência. É assim que o Ministério Público do Estado de São Paulo descreve a organização criminosa que atuava com empréstimos ilegais, ameaças, lavagem de dinheiro e empresas de fachada. A quadrilha foi alvo de uma nova fase da Operação Castelo de Areia, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), nesta terça-feira, 3, em Franca, Ribeirão Preto e Pedro Leopoldo (MG). Veja quem são todos os suspeitos e o que faziam na quadrilha. 41559
Rogério Alves dos Santos, conhecido como “Gel”, é apontado como chefe de um dos núcleos da organização. Já foi condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico, e é irmão de Ronny Hernandes, preso em 2023 na primeira fase da operação.
A investigação aponta que, mesmo após a prisão do irmão e de outros agiotas, Rogério não parou de atuar e teria pago R$ 300 mil para ajudar comparsas a saírem da cadeia.
“Aí, eles pode até me pegar, mas, assim, não sei o que eles vai colocar. Vai pôr minha conta lá, né? Aquele tanto Pix lá. Mas, mano, não tem nenhum cliente denunciando. É, não tem uma escuta nossa. Vai dar trabalho, eles vai ter que ralar pra conseguir segurar nós. E outra, Rogerinho falou lá, o advogado, não fala pra ninguém... 'qualquer lugar que cai lá em São Paulo eu tiro, BO de agiotagem'. Só que demora uns 2 mesinhos e é caro, né. ...de um cem para cima. Falou que o Evanderson mesmo ele vai tirar (sic)”, diz Rogério em um dos áudios interceptados.
O grupo oferecia empréstimos com juros abusivos — geralmente de 20% ao mês — e realizava as cobranças por meio de mensagens no WhatsApp, com ameaças veladas ou diretas. Acusado de ser um dos líderes da quadrilha, Rogério Alves dos Santos enviava mensagens padronizadas às vítimas com os detalhes do 'acordo':
“Valor do empréstimo: R$ 5.000 / Juros: 20% / Total com juros: R$ 6.000 / Pagamento em 30 dias. Se não pagar, entra no protesto e vamos conversar pessoalmente (sic)", dizia a mensagem.
Segundo o Ministério Público, Rogério também orientava os comparsas a não emprestarem dinheiro a pessoas que tivessem apenas RG, alegando que clientes com CNH tinham mais a perder judicialmente, o que facilitava a cobrança.
Durante as investigações do Ministério Público, foi descoberto que a quadrilha de Rogério empregava a mesma violência que o outro grupo criminoso. Em uma conversa interceptada, um dos suspeitos enviou uma mensagem a um cliente.
“Vou pegar seu endereço. Vou te ass…seu lixo. Tirei o dia para te achar. Vou perder o meu natal, mas vou te achar (sic)".
Mesmo com a pessoa informando que teria o dinheiro somente na semana seguinte, as ameaças continuaram.
Para esconder a origem dos valores, a quadrilha usava empresas de fachada, como a Sancred Atividades de Cobrança EIRELI, registrada em nome de Rogério. A empresa, que aparecia como “consultoria e cobranças”, servia para lavagem de dinheiro e disfarçar os lucros obtidos com a agiotagem, dizem os promotores.
As contas da Sancred e do próprio Rogério registraram mais de 41 mil transações financeiras, com valores incompatíveis com a renda declarada. O COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) emitiu alertas sobre movimentações suspeitas envolvendo o grupo.
Os criminosos usavam WhatsApp e emails para operar. O Gaeco teve o a backups de conversas, áudios, fotos de documentos de vítimas e planilhas de controle de dívidas armazenadas em nuvem.
As mensagens revelam ameaças constantes e até recomendações internas para mudar os apelidos dos envolvidos, dificultando a identificação e o rastreamento pelas autoridades.
A investigação do Gaeco aponta que a quadrilha atuava com uma divisão de funções bem definida. Veja abaixo quem são os investigados e qual era, segundo os promotores de Justiça, a participação de cada um no esquema de agiotagem:
Rogério Alves dos Santos, conhecido como “Gel”
Thiago Giacomini Cravo
Alex Alves dos Santos
Alex Sander Henrique da Silva
Patrick da Silva Delgado
Willian Fernando Alves do Nascimento (vulgo “Buzina”)
Wescley Mateus Carlos da Costa (vulgo “Leão”)
Carlos Roberto de Souza (vulgo “Pizza” ou “Pitça”)
Rayander Luiz Nascimento Loviat
Célio Luis Martins
Everaldo Bastos Guimarães
Eraldo Bastos Guimarães
Bruno Ricardo de Matos Souto
Antônio Henrique Pimenta Mathias
Matheus Carrijo Machado
Leonardo Carrijo Machado
Jonathan Nogueira dos Santos Reis
Até o término desta matéria, a reportagem não conseguiu contato com a defesa de todos os suspeitos.