Nas últimas décadas, muito se falou sobre o eixo intestino-cérebro e sua influência na saúde mental e imunológica. No entanto, outro eixo igualmente poderoso vem ganhando protagonismo nas pesquisas em neurociência e fisiologia: o eixo músculo-cérebro. Esse elo vital entre o sistema musculoesquelético e o cérebro é mediado por substâncias chamadas miocinas, que são verdadeiras mensageiras químicas com potencial de transformar nossa saúde física e mental.
Sabemos que o exercício aeróbico ajuda o cérebro, que correr e caminhar melhoram a cognição, atenção, agem como antidepressivos naturais, a tempos falo sobre isso aqui para vocês. Achávamos que o treino de força era muito importante para prevenção da sarcopenia, a perda de massa muscular que ocorre com o processo de envelhecimento, que poderíamos chamar de um “alzheimer do músculo”. Porém, o músculo, o maior órgão do corpo humano, são 650 músculos atuando em nossos lindos corpos, essenciais para o aparelho locomotor, para nossa postura, para a força dos movimentos voluntários, para nosso aparelho respiratório, para os reflexos, e agora sabemos também, para a promoção de melhorias em nossos cérebros, através das miocinas.
O que são miocinas então? As miocinas são proteínas produzidas e liberadas pelos músculos esqueléticos em resposta à contração muscular, especialmente durante a prática de exercícios físicos. Ao entrarem na corrente sanguínea, essas substâncias atuam de forma endócrina, influenciando diferentes tecidos e órgãos, incluindo o nosso cérebro.
Entre as miocinas mais estudadas estão a irisina, o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro- responsável pela plasticidade cerebral), que embora tenha origem no cérebro, também é estimulado pela atividade muscular, além das interleucinas 6, 7, 10 e15, da SPARC e outras mais. Elas estão associadas a benefícios como a neurogênese e plasticidade cerebral, regulação do humor e da cognição, redução da inflamação sistêmica e cerebral, além da prevenção de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.
Podemos então chamar o músculo de órgão endócrino do movimento. Ao contrário da visão tradicional que enxerga os músculos apenas como estruturas mecânicas responsáveis pela movimentação, hoje compreendemos que eles funcionam como verdadeiros órgãos endócrinos ativos. Quanto mais ativa a musculatura, mais intensa a produção de miocinas e, consequentemente, mais protegido e estimulado o cérebro estará.
É como se cada repetição de um exercício, cada contração voluntária, fosse uma mensagem enviada ao cérebro dizendo: “a vida está em movimento, continue adaptando-se, continue crescendo”. Lindo né?
Estudos mostram que pessoas que mantêm uma rotina regular de treinamento de força e exercícios funcionais apresentam não apenas melhor desempenho físico, mas também maior volume cerebral, melhor memória, maior capacidade de atenção e menores índices de ansiedade e depressão. O treinamento de força estimula não só a massa muscular, mas também a liberação de irisina e BDNF, substâncias associadas à criação de novas conexões neurais e à proteção dos neurônios contra processos degenerativos.
Além disso, músculos ativos ajudam a modular a inflamação sistêmica, um dos principais gatilhos de doenças neurológicas. O exercício funciona como um anti-inflamatório natural, atuando tanto no corpo quanto na mente. Eu sempre digo: o movimento é o melhor remédio! Movimento é saúde integral.
Entender o eixo músculo-cérebro é uma das maiores viradas de chave da saúde moderna. Fortalecer os músculos é fortalecer a mente. Cuidar da postura, da mobilidade e da força funcional não é apenas questão de estética ou desempenho, é uma estratégia de longevidade física e mental.
O corpo fala, e o músculo pensa. Através das miocinas, o sistema
musculoesquelético envia sinais que mantêm o cérebro jovem, resiliente e em constante renovação. Incorporar o movimento consciente à rotina é uma das decisões mais inteligentes para quem busca não só um corpo ativo, mas uma mente lúcida e plena ao longo da vida. Aceite meu conselho: treine força! Muita saúde a todos.