Ubatuba diz que praias estão livres de bactéria comedora de carne

A Prefeitura de Ubatuba, no litoral paulista, não identificou a presença de bactérias "comedoras de carne" nas praias do município após a morte de um homem de 30 anos que mergulhou na praia de Perequê-Mirim em decorrência de fasciíte necrosante.
A infecção é considerada extremamente grave e avança de forma muito rápida pela fáscia, membrana que envolve músculos, nervos e vasos sanguíneos.
Diferentes tipos de bactéria podem causar a fasciíte necrosante, sendo a mais comum Streptococcus pyogenes. Outro tipo, Vibrio vulnificus, pode ser encontrado facilmente em águas salinas.
Mas, segundo infectologistas ouvidos pela Folha, a presença da bactéria é natural e não está associada ao despejo inadequado de esgoto. A principal forma de infecção é por meio de aberturas na pele, como pequenos cortes ou feridas.
"Não tem nada a ver com a questão do esgoto ou da água poluída. Algumas cepas dessa bactéria são mais invasivas e causam quadros mais graves, mas isso se deve a uma toxina produzida por ela e à resposta imunológica da pessoa", afirma a infectologista Patrícia Guttman.
Embora as bactérias causadoras da infecção não tenham sido encontradas nas praias, o município alertou que Perequê-Mirim não está própria para banho.
O homem contaminado teria procurado atendimento médico em 22 de abril e morreu dias depois.
De acordo com o boletim de balneabilidade da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a praia estava própria para banho entre os dias 13 e 26 de abril, mas ficou imprópria na semana anterior, entre 6 e 12 do mesmo mês.
Em 2024, o Brasil registrou 329 óbitos por fasciíte necrosante, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde. O estado de São Paulo concentrou quase um quarto dos casos, com 80 episódios registrados.
Os primeiros sintomas incluem dor intensa, vermelhidão ou inchaço local, febre alta e mal-estar generalizado.
"Com o avanço da infecção, pode haver formação de bolhas, escurecimento da pele (necrose), queda de pressão e sinais de choque séptico", afirma Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia.
O tratamento deve ser feito com antibióticos potentes e, na maioria dos casos, com cirurgia para remoção do tecido necrótico. O diagnóstico precoce é fundamental.