ARTIGO

Autismo: conscientização para além do 'Abril Azul'

Por André Bandeira |
| Tempo de leitura: 3 min

Sou vereador em Piracicaba, cadeirante e militante incansável da inclusão. Vivo na pele os desafios de uma sociedade que ainda caminha lentamente rumo ao verdadeiro respeito às diferenças. Por isso, faço questão de usar este espaço para tratar de um tema urgente, necessário e que precisa estar mais presente em nossas conversas cotidianas, nas escolas, nos ambientes de trabalho e, principalmente, nas políticas públicas: a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O mês que acabamos de ar, abril, é conhecido como o Abril Azul, mês dedicado à conscientização sobre o autismo e visibilidade para esse tema. Durante esse período, campanhas são promovidas em todo o país com o objetivo de informar, sensibilizar e dar visibilidade às pessoas autistas e suas famílias. No entanto, é fundamental reconhecer que essa conscientização não pode se limitar a um único mês do ano. O autismo está presente todos os dias, e com ele também devem estar a empatia, o respeito e o compromisso com a inclusão.

O espectro é diverso, e a resposta também deve ser. O autismo é um espectro — e isso significa que ele se manifesta de formas diferentes em cada pessoa. Existem indivíduos que precisam de mais e, outros que são plenamente independentes, mas todos, sem exceção, merecem acolhimento, dignidade e oportunidades reais. A falta de compreensão sobre essa diversidade é, muitas vezes, o primeiro obstáculo à inclusão. Por isso, é essencial que a sociedade busque informação de qualidade e ouça quem vive essa realidade, quem realmente luta no dia a dia pela participação plena de todos em nossa sociedade.

Inclusão é direito, não favor. Falo com propriedade quando digo que a inclusão não é caridade. É um direito garantido por lei e que precisa ser efetivado com urgência. Assim como luto diariamente por inclusão, ibilidade e respeito às pessoas com deficiência, também abraço com firmeza a causa do autismo. As escolas precisam estar preparadas para receber alunos com TEA, o mercado de trabalho deve abrir suas portas com políticas afirmativas, e os serviços públicos precisam ser íveis. Não podemos mais aceitar que essas pessoas continuem sendo invisibilizadas ou negligenciadas.

Mas cuidado com o uso indevido da causa. Nos últimos anos, infelizmente, tenho observado um fenômeno preocupante: a exposição do autismo em nossa sociedade de maneira superficial e oportunista. Transformar uma causa tão séria em palco para “likes” e seguidores nas redes sociais ou mesmo a autopromoção é um desrespeito com quem vive diariamente os desafios — e também as conquistas — de ser autista ou de conviver com alguém no espectro. Conscientizar é um ato de responsabilidade, que exige sensibilidade, compromisso e verdade. É hora de valorizar quem realmente contribui para o debate com ética e consistência.

A verdadeira conscientização é permanente. Vestir azul em abril é simbólico, mas está longe de ser suficiente. A verdadeira conscientização acontece quando desenvolvemos empatia, nos colocamos no lugar do outro e, principalmente, quando cobramos e construímos políticas públicas eficazes. Como vereador, sigo com muito orgulho essa missão de lutar por uma Piracicaba mais justa, inclusiva e humana. A cidade que acredito é aquela onde todas as pessoas — independentemente de suas características — possam viver com dignidade e respeito.

O Abril Azul é um ponto de partida, não um ponto final. A luta por inclusão é diária. E, mais do que nunca, precisamos entender que a inclusão, essa sim, deve ser permanente.

André Bandeira é empresário, graduado em istração de Empresas, especialização em marketing e vereador em Piracicaba.

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