
Autoridades e especialistas reforçam a necessidade de vigilância diante da alta letalidade da cepa H5N1 e seu potencial de adaptação.
A detecção recente de casos de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul reacendeu o alerta de especialistas e autoridades sanitárias. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) afirmou que acompanha de perto a situação e mantém protocolos de monitoramento ativo.
A cepa H5N1, associada ao surto, possui taxa de mortalidade estimada em 48% entre humanos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora não haja registros confirmados de transmissão entre pessoas, cientistas alertam que o vírus já demonstra capacidade de adaptação em mamíferos, o que amplia as preocupações quanto ao seu potencial pandêmico.
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Por que a gripe aviária preocupa?
Segundo o infectologista Jean Gorinchteyn, a situação é considerada controlada, mas inspira cuidados. "Esse vírus apresenta alta capacidade de mutação. Se ele adquirir a habilidade de se espalhar de pessoa para pessoa, por vias respiratórias ou contato direto, o risco de um surto em larga escala se torna real", explica.
Estudos recentes apontam que a infecção tem se disseminado entre mamíferos, incluindo leões-marinhos, o que reforça a vigilância sobre sua evolução.
Como ocorre a infecção?
O vírus H5N1 é uma variante da Influenza A, comumente encontrada em aves e, ocasionalmente, em mamíferos. A transmissão para humanos ocorre por meio do contato direto com secreções ou excrementos de animais contaminados.
Apesar disso, não há evidências de que o consumo de carne de aves ou ovos represente risco, desde que os alimentos sejam bem cozidos. "Temperaturas elevadas durante o preparo eliminam o vírus", garante o médico Igor Marinho, do Hospital das Clínicas.
Sintomas e agravantes
Os sintomas da gripe aviária são similares aos da gripe comum, podendo variar conforme a gravidade do caso. Entre os sinais mais comuns estão:
- Febre
- Tosse seca
- Coriza e secreção nasal
- Dor de garganta
- Espirros
- Falta de ar
- Pneumonite
- Dores no corpo e ao respirar
- Insuficiência respiratória
O quadro pode evoluir mais gravemente em grupos vulneráveis, como crianças, idosos, gestantes, imunossuprimidos e pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares. "A coinfecção com bactérias é outro fator que pode agravar o estado do paciente", reforça Gorinchteyn.
Diagnóstico e isolamento
A confirmação da infecção é feita por exames moleculares, semelhantes ao teste de covid-19, com coleta de secreções respiratórias. O diagnóstico geralmente é solicitado em casos suspeitos, especialmente em pessoas que atuam com aves ou estiveram em áreas de risco.
Mesmo antes da confirmação, pacientes que tiveram contato com animais infectados devem seguir protocolos de isolamento, já que o período de incubação do vírus varia entre três e cinco dias.
Há risco de pandemia?
Para Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora da Unisinos, a possibilidade de uma pandemia depende de mutações futuras. "O risco aumenta com a coinfecção, quando o mesmo hospedeiro é infectado por diferentes cepas, como a humana, suína e aviária. Foi isso que deu origem à gripe suína", alerta.
A recombinação viral nesses casos pode originar uma nova variante, com comportamento imprevisível e potencial de disseminação global.
Vacina atual protege?
A vacina contra gripe, oferecida pelo SUS, não protege diretamente contra o H5N1. No entanto, os especialistas recomendam a imunização como forma de evitar coinfecções.
"Manter alta cobertura vacinal contra a influenza comum ajuda a reduzir as chances de recombinação entre vírus, que pode resultar em novas mutações mais perigosas", destaca Marinho.