A música clássica e cultura de Piracicaba estão em luto. Faleceu na noite desta segunda-feira (12) o maestro e compositor Ernst Mahle. 1q1q6q
Ele tinha 96 anos - comemorados em 3 de janeiro - e estava internado no Hospital Unimed.
Com mais de dois mil arranjos e composições que são referências em Piracicaba, no Brasil e por todo o mundo, Ernst Mahle fez história. Deixou um legado na cultura piracicabana.
“Lembro-me como se fosse ontem do Mahle construindo seus cataventos e bonecos pelo jardim. Era seu atempo predileto quando não estava compondo. Não conheço ninguém que tenha vivido a música tão plenamente. Foi ele quem colocou Piracicaba no mapa musical do Brasil”, diz Marcelo Batuíra Losso Pedroso, diretor responsável pelo Jornal de Piracicaba.
“Falar de minha carreira como músico envolve duas pessoas: minha mãe, Zilma, e o maestro e compositor Ernst Mahle. Minha mãe me iniciou e Mahle trouxe todo significado, do que é fazer música com prazer, com qualidade, com alegria, com profissionalismo, com humanidade”, conta o violista Renato Bandel.
“Uma conversa com o maestro me tocou muito. Estávamos saboreando uma sobremesa preparada pela Dona Cidinha, mirtilo do pomar com iogurte, quando Mahle me pergunta: Renato, o que é espírito? Fiquei sem saber responder e aguardei sua conclusão: Você pode ouvir uma obra musical ao vivo ou escutar uma gravação. Na execução ao vivo o espírito está presente", relembra Bandel.
“Uma grande perda para a cultura e para a música, não só de Piracicaba”, lamenta o maestro Fhelipe Serafim, ex-aluno de Mahle.
O JP retratou sua história em inúmeras reportagens. Em uma delas, contou sobre a vida na infância.
Nascido em 1929, na cidade de Stuttgart, na Alemanha, Mahle dizia que nasceu no ano mais frio do País. “Minha mãe contava que todos os lagos estavam congelados. Quando ela estava indo para a maternidade, meu pai já tinha um carro, e deslizava pelo gelo e minha mãe falava: mais depressa e mais devagar!”, lembrou o músico, em uma reportagem publicada em 2023, no dia de seu aniversário de 94 anos.
Embora tenha nascido no inverno, Mahle itiu que gosta muito mais do calor do Brasil.
Mas não foi só o clima quente que fez Ernst ficar. Filho e neto de engenheiros e após vivenciar a Segunda Guerra Mundial e perder muitos de seus colegas, Mahle tinha habilidades com peças, pois seu pai foi o fundador da Mahle, empresa industrial do setor automotivo. Com sua facilidade, foi escolhido para trabalhar em uma fábrica de peças para avião na fronteira da Alemanha com a Áustria.
Nesta época, o compositor nem imaginava em ser músico ou professor. Segundo ele, ava tanto tempo na fábrica que a ideia não ava por sua mente.
Ainda jovem e no colegial, o impulso de ser músico aconteceu após assistir uma apresentação do Conservatório de Paris, apresentação que ocorria com frequência em Bludenz, na Áustria, época em que o local era controlado pelos ses. Foi então, que com uma simples flauta doce, primeiro instrumento dele, nasceu o maestro e compositor que conhecemos hoje.
Em 1951, a família Mahle se mudou para o Brasil e se instalaram em São Paulo. “Meu pai assistiu a um filme sobre o Rio de Janeiro e já sabia o próximo destino dele, o Brasil”, relatou. Na época, o artista ingressou para na Pro Arte Seminários, onde foi aluno de Hans Joachim Koellreuter, que o incentivou a seguir sua carreira musical.
Anos mais tarde, com pessoas importante do meio cultural piracicabano, o maestro fundou a Escola de Música de Piracicaba, com o nome de ProArte, em 1953. Foi então que Mahle começou a compor suas primeiras obras e sua motivação foi justamente os seus alunos. “Comecei a compor por causa de meus alunos, criei um repertório fácil, inicialmente com o folclore brasileiro. Conforme os alunos foram se aperfeiçoando, precisei compor obras mais difíceis”, contou ele ao JP.
E foi nesta época, também, em 1955, que ele se casou com a piracicabana Maria Apparecida Romera Pinto Mahle, ex-aluna de Koellreutter e uma das fundadoras da Empem (Escola de Música de Piracicaba Ernst Mahle).
O casal teve os filhos Ernesto, Cecília Elisabeth (já falecida), Claudio, Ricardo e Leonora. A família cresceu com os netos Erick, Sebastian, Cecília e Inês e também com uma bisneta.
Hoje, suas composições fazem sucesso por onde am, entre elas, as óperas muito prestigiadas como: Maroquinhas Fru-Fru (1974) ópera, libreto de Maria Clara Machado; A Moreninha (1979) ópera, libreto de José Maria Ferreira; O Garatuja (2006) ópera, libreto de Eugénio Leandro.