OPINIÃO

Geração 'nem nem'

Por Roque Roberto Pires de Carvalho | E-mail: [email protected]
| Tempo de leitura: 3 min

Vez por outra sinto necessidade de escrever sobre educação, área em que tive o privilégio de trabalhar ao longo de mais de 35 anos e manifestar, mesmo que aposentado, preocupações com o ensino médio. Em razão disto acompanho mesmo que de longe o que se a com a política educacional em âmbito estadual e federal. Confesso, ver com muito pessimismo, se já não era bom há vinte anos agora está realmente inquietante trazendo em sua esteira o título desta crônica: Geração "nem nem" (nem estudam e nem trabalham).

Quanto ao primeiro "nem", tomei conhecimento de que a OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, fundada em 1960 sua sede em Paris no "Chânteau de la Muette"(1) um Palácio Medieval. Essa Organização divulgou no dia 10/9/2024 no jornal Zerohora um estudo afirmando que "cerca de 1 em 4 jovens entre 25 e 34 anos no Brasil não estudam nem trabalham os chamados "nem nem" e que é superior à média dos países da OCDE. Importante salientar que o Brasil não faz parte dessa Organização.

Para mitigar esse problema educacional brasileiro, combater a evasão escolar e apoiar a conclusão dos estudos, o governo federal resolveu instituir em 2025 um programa social com o popular nome "pé-de-meia", com pagamentos mensais de Cr$ 200,00, aos alunos matriculados no primeiro ano do Ensino Médio, extensivos aos já matriculados no 2º e 3º anos, ou alunos do EJA - Educação de Jovens e Adultos , com exigências de frequência mínima de 80% das aulas e aprovação ao final do ano; o valor pode ser sacado mensalmente desde que comprovada a frequência mínima.

Por ser um programa de incentivo financeiro-educacional, na modalidade de poupança o valor depositado anualmente de Cr$ 1.000,00 somente será liberado ao final do curso quando aprovado. Aluno que abandonar a escola, for reprovado, não participar dos trabalhos escolares será automaticamente desligado do programa.

Em nosso país, governado sob promessas nem sempre cumpridas, porém eleitoreiras, amos às expectativas de que até o final de 2027 os resultados (frutos) desse programa seja de melhor qualidade e o alunado compreenda que sua missão seja estudar, estudar e estudar para ser alguém em condições de disputar o mercado de trabalho que se sabe, muito concorrido, disputado e só os melhores serão aproveitados. Com a palavra a juventude para extirpar, para sempre o "nem estuda".

Uma preocupação do cronista: empresários da educação com poderosos "lobbies"/sem transparência, pressionam bastidores do governo para que o Ensino Médio seja " premiado" com o sistema fatídico EADs - Ensino à Distância e se aceito pelos legisladores interessados, será o fim da qualidade do ensino médio com resultados péssimos e irreversíveis, sob minha exclusiva ótica.

Quanto ao segundo "nem" é resultante do primeiro. Novamente as estatísticas (Instituto Brasileiro de Economia da FGV) revelam que 6 em cada 10 empresas têm dificuldade para contratar. A indústria, o comércio geram vagas, mas esbarram na falta de qualificação, baixo índice de aprovação nas seleções para issão. Atualmente, os profissionais de Recrutamento e Seleção estão enfrentando desafios sem precedentes: a constante evolução das expectativas dos empregados, a escassez global de mão de obra e a lacuna de habilidades cada vez maior.

Não obstante, o Brasil é um dos países que mais oferecem cursos técnicos e profissionalizantes, gratuitamente para toda uma geração de jovens que queiram se qualificar para o trabalho na indústria, no comércio com aplicação de alta tecnologia e estão aí para comprovar o Senai - Serviço Nacional da Indústria; o Senac - Serviço Nacional do Comercio e o Sesi, Serviço Social da Indústria, este, ensinando gratuitamente desde o básico fundamental. Existem ainda empresas industriais/comerciais que oferecem aos seus colaboradores cursos internos de treinamento e desenvolvimento de pessoal - porém há necessidade de que o jovem manifeste disposição e interesse pelo trabalho e os que assim procedem obtém sucesso.

Mesmo com tantas e gratuitas ofertas o jovem opta pelos trabalhos informais, deixa de ir à escola para auferir rendas que o sustente, não submete-se à uma permanência prolongada no âmbito escolar e cultiva um gosto especial para as baladas, locais animados e festivos sem cobranças de professores e pais desatentos. Pobre Brasil...!

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