Tenho insistido reiteradamente em um ponto que me parece essencial para compreender o ime histórico em que o Brasil se encontra: faltam-nos estadistas. Sobram políticos. Mas falta-nos aquele tipo humano raro, que pensa o país para além do próprio reflexo no espelho. O Brasil, em sua complexidade e grandeza, não pode ser reduzido à lógica do marketing político, da sobrevivência eleitoral ou do imediatismo oportunista. Precisamos de alguém capaz de sonhar alto, agir com responsabilidade e cultivar o senso do dever.
O estadista é, antes de tudo, um servidor da Nação. Não é movido por vaidades pessoais, mas por um propósito de transformação social e institucional. A história nos mostra que os estadistas são raros - e por isso preciosos. São homens que se projetam não por gritar mais alto ou colecionar curtidas nas redes sociais, mas por oferecerem ao seu tempo uma bússola moral e uma visão de futuro. São figuras que, mesmo envolvidas nas urgências do presente, não se perdem em sua neblina. Sabem onde estão, por que estão e para onde pretendem conduzir o país.
O Brasil vive uma estagnação política e moral. Não por falta de recursos, inteligência ou potencial. Mas porque falta direção. Os ciclos políticos se sucedem sem que um projeto nacional consistente consiga firmar raízes. Oscilamos entre o populismo e o tecnocratismo, entre promessas vazias e reformas apressadas. Há uma ausência inquietante de lideranças que pensem o Brasil para além de quatro anos.
O estadista, ao contrário do político tradicional, não se limita ao calendário eleitoral. Ele planta árvores cujos frutos talvez não venha a colher. Planeja com os olhos postos em décadas. Sabe que governar não é apenas istrar crises, mas construir futuro. O estadista é um artífice da esperança, não um operador da rotina.
O Brasil não pode prescindir da esperança. Mas não pode também continuar refém de salvadores da pátria, de mitos forjados em redes sociais ou de líderes cuja única ideologia é o culto à própria personalidade. A saída está no reencontro com a política em seu sentido mais nobre: a arte de servir ao povo com honestidade, competência e visão.
O estadista precisa ser desenvolvimentista — mas um desenvolvimentismo inteligente, moderno, responsável. Que compreenda as potencialidades do país, respeite o meio ambiente, invista em educação, ciência e tecnologia, valorize a indústria nacional e enfrente as desigualdades sociais com coragem. O Brasil não pode continuar sendo um país rico com um povo pobre.
E aqui, a Amazônia assume um papel estratégico e simbólico. Não há projeto de nação sem um olhar lúcido e soberano sobre a maior floresta tropical do planeta. A Amazônia não pode ser reduzida a slogans ou a objeto de disputa de interesses internacionais. Ela é parte vital da nossa identidade, da nossa biodiversidade e do nosso potencial de desenvolvimento sustentável. Como afirma Aldo Rebelo, "além da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia também é detentora da maior fronteira mineral e da maior fronteira energética do mundo". Um estadista entende que proteger a Amazônia é proteger o Brasil, mas compreende também que a presença do Estado, a infraestrutura, a educação e a geração de emprego são essenciais para que os brasileiros que vivem na região deixem de ser invisíveis.
A hora exige coragem, grandeza e espírito público. A hora exige um estadista.