OPINIÃO

O bebê realista de silicone

Por Zarcillo Barbosa | O autor é jornalista e articulista do JC
| Tempo de leitura: 3 min

Bonecos e bonecas sempre existiram. Na minha infância eram de louça. Minhas filhas tiveram a Barbie, a Susi, o Ken. As crianças precisam exercitar o imaginário, criar fantasias. Brincar com bonecas desperta o instinto maternal e a responsabilidade de cuidar dos filhos. Para um observador inocente, deixa de ser grande surpresa a nova onda importada dos Estados Unidos dos "reborn babies", bonecos hiper-realistas, de silicone, maquiados à mão e que parecem recém-nascidos.

"Reborn", em inglês, significa renascido. Os bonecos mais caros chegam a custar de 10 mil a 80 mil reais, porque trabalhados por artistas. São criações únicas e têm cabelos, cílios, olhos e até mesmo veias e unhas pintadas. Acompanha o enxoval do bebê. Tão reais que confundem até a polícia. Veículos tiveram vidros de janelas arrebentados. Como se alguma mãe descuidada tivesse abandonado uma criança de verdade na cadeirinha, com o carro fechado.

Os bebês reborn têm sido utilizados como recursos terapêuticos para mães enlutadas, ou consolo àquelas que não podem ter filhos. Adultos chegam a simular maternidade real, registram os bonecos com nomes fictícios, fazem ensaios fotográficos, realizam batizados simbólicos, chá de fraldas, solicitam licença maternidade ou benefícios sociais. Um deputado federal ofereceu projeto de lei multando em 30 mil reais aqueles que vão ao pronto atendimento (UPAs) exigindo cuidados médicos como se tivessem uma criança viva. Há o caso do ex-casal que disputa na Justiça com quem fica a "criança", e divorciados que concordam com a guarda compartilhada.

No Parque Ibirapuera, dezenas de "mães" se encontram num ponto fixo, para troca de experiências. Cada uma com o seu carrinho. Dizem que discutem sobre como conseguir certidões de nascimento falsas, carteiras de vacinação, bolsa família, licença maternidade. Há quem sustente que o Hipoglós ainda é eficiente para prevenir assaduras.

Cada pessoa é livre para lidar com suas emoções e afetos da maneira que entender mais adequada. O problema é quando esse uso simbólico se transforma em desperdício do dinheiro público. Não fora isso, tudo estaria de bom tamanho. Se os que deliram de amores pelos bebês de silicone não planejarem golpe de Estado, e nem novos avanços no dinheiro dos aposentados... que se divirtam. Espero que nenhum reborn morra de bala perdida.

A onda gera negócios. Em São Paulo abriram uma "maternidade". Os bebês que nascem ali não choram e nem crescem. Brotaram influenciadores na internet, especializados em novidades sobre os reborn. Ganham com a audiência monetizada, ao atraírem milhares de seguidores. Politicamente, também surgem os que querem pegar carona no rastro do sucesso, nem que seja de quatro. O governador mineiro Romeu Zema, postou a venda de um bebê ultrarrealista batizado de "Governo Lula. Custa caro; apertou faz caquinha, mas finge ser fofo." Maldade.

Sou mais a robô Sophia, que percorre o mundo como primeiro androide de inteligência artificial avançada. Sua presença provoca tumulto e curiosidade sobre como será o futuro se esse tipo de máquina entrar em contato com o dia a dia dos humanos.

Sophia pode manter conversações, demonstrar com o rosto expressões similares às das pessoas e aumentar sua bagagem de conhecimentos cada vez que interage com um humano. Algumas respostas não têm muito sentido, mas, na maioria das vezes, ela é capaz de surpreender com raciocínios lógicos.

Gostei quando Sophia disse, numa conferência em Dubai, que "os humanos são as criaturas mais criativas do planeta, mas também as mais destrutivas. Só quero me rodear de pessoas agradáveis e amáveis ajudando-as a trabalhar por um futuro melhor, em que todos sejam bem tratados".

Cópias do robô Sophia custam 4 milhões de reais. Fosse baratinho, compraria para ter com quem dialogar. Lá em casa eles só conversam com os pets.

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