
A partir de 16 de junho, o Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca) terá uma nova diretoria. Após 20 anos presidindo o sindicato, José Carlos Brigagão decidiu não disputar a reeleição. Antes de deixar o cargo, em entrevista ao portal GCN/Sampi, Brigagão destacou os principais desafios que a próxima gestão precisará enfrentar para impulsionar o setor calçadista.
A lista do sindicalista começa com a isonomia tributária. O principal imposto é o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Essa carga é estadual, e cada estado pode oferecer incentivos fiscais – ou seja, descontos ou benefícios para atrair empresas, com o objetivo de estimular a economia local, gerar empregos e aumentar a renda da população.
“No Estado de São Paulo, temos o benefício fiscal do crédito presumido e redução da base de cálculo do ICMS, onde o imposto pode variar de 3,5% a 12%, a depender da situação. Somam-se a ele, outros impostos sobre o consumo, como o PIS (Programa de Integração Social) e a Cofins (Contribuição para Financiamento da Seguridade Social), que possuem uma carga efetiva sobre os produtos de, no mínimo, 3,65%”, pontuou Brigagão.
Guerra fiscal que possibilita a ascensão de concorrentes do mercado francano. “Outros estados também vêm ganhando destaque, como o Ceará e o Rio Grande do Sul, com tradição na produção de calçados e também regimes fiscais atrativos. Ainda assim, Minas Gerais continua sendo o concorrente mais direto e constante, tanto em termos logísticos quanto comerciais”.
A indústria mineira, por exemplo, se destaca na produção de calçados populares voltados para o mercado nacional. “A principal diferença está no nível de incentivos fiscais oferecidos por Minas Gerais, que historicamente tem aplicado reduções na base de cálculo e créditos presumidos mais agressivos que os de São Paulo. Isso faz com que a carga efetiva de ICMS em Minas seja, muitas vezes, inferior à de São Paulo, especialmente para empresas que produzem em larga escala ou estão localizadas em regiões incentivadas. Em média, a carga efetiva de ICMS no vizinho mineiro para o setor de calçados fica entre 1% e 2%, além de outros incentivos que favorecem os fornecedores da indústria calçadista mineira, como o TTS (Tratamento Tributário Setorial)”.
Combate à informalidade
Outro desafio é combater o trabalho informal. Segundo o Sindifranca, com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a indústria calçadista de Franca emprega formalmente 14.174 pessoas — com uma média anual de 13.928 trabalhadores registrados.
O sindicato não dispõe de dados precisos sobre o número de pessoas que atuam sem carteira assinada, mas Brigagão destaca razões que levam muitos a optarem pela informalidade. “São vários motivos, entre eles estão o recebimento do seguro-desemprego, o recebimento de um salário maior em decorrência do não pagamento da alta carga tributária sobre a mão de obra etc.”.
Inovação e mão de obra qualificada
Brigagão defende linhas de financiamento para atualização do parque fabril e inovação tecnológica. “Se analisarmos o nível de automação, de máquinas e equipamentos do setor industrial calçadista francano atualmente, vamos encontrar um cenário da década de 1980, com raras exceções”.
“Há décadas, trouxemos o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para Franca para trazer novas tecnologias em máquinas, equipamentos e gestão de empresas; no entanto, o Estado não fez os investimentos necessários, com a devida adequação às necessidades do parque calçadista, e hoje se resume a um laboratório de análise, e por pouco o governador da época não o fechou”, completou.
Brigagão também propõe um programa de qualificação da mão de obra e a implantação de recursos humanos nas empresas.
Implantação da Indicação de Procedência
Em março de 2012, o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) reconheceu Franca como uma IG (Indicação Geográfica) para calçados. Com isso, concedeu à cidade o registro de Indicação de Procedência — uma forma de valorizar e dar credibilidade a produtos ou serviços, destacando as qualidades que estão diretamente ligadas ao seu local de origem. Esse reconhecimento garante um diferencial competitivo no mercado.
Além disso, as IGs ajudam a proteger produtos e regiões contra falsificações e usos indevidos. Para o consumidor, funcionam como uma garantia de que se trata de um produto autêntico, com características únicas e diferenciadas.
“A instauração de uma Indicação de Procedência favorece a presença mercadológica de produtos característicos, que geralmente sofrem com a concorrência, estabiliza a demanda, amplia as margens de lucro e, em amplo sentido, estabelece a confiança do consumidor, que ao identificar a origem a associa a um produto de qualidade comprovada e segura”, explicou Brigagão.
Usina de reciclagem de couro
Por fim, Brigagão sugere a instalação de uma usina de reciclagem de couro. “Em contato com a direção da empresa multinacional de origem tecnológica italiana, fomos informados de que, com a entrada de novos sócios americanos, estão planejando a instalação em 2026. Quanto aos pontos irregulares de descarte, são vários, mas não temos a quantidade”, finalizou.
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Comentários
4 Comentários
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Gabiroba 3 dias atrásO bom que ele sabe a receita do sucesso para o futuro! Só não aplicou nada nos 20 anos que ele mamou gostosamente num salário astronômico e muita conversa fiada! Que a nova diretoria faça algo diferente mesmo e não seja só mais uns querendo benefícios próprios e status com o companheiros patronais.
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Darsio 3 dias atrásUai, sô!!! ICMS alto e IPT sem investimentos? Oras! Mas, o Tarcísio não é um excelente governo? E aí 60% dos que aprovam o Tarcísio! O que ele fez de bom para a cidade?
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Dr. QTH 4 dias atrásParece piada, este Senhor a 20 anos presidindo um dos sindicatos mais importante da cidade, e vem com essa conversinha que precisa investimento em tecnologia, em aperfeiçoar a mão de obra. Faz 40 anos que o Estado de São Paulo é governado pela DIREITA, faz 60 anos que ouço a mesma coisa. O que precisa e sempre precisou é a valorização do ser humano, a valorização de quem confecciona. Hoje mesmo sampi.net pública uma reportagem com o título, o melhor investimento é em PESSOAS.
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Flávio 4 dias atrásEnquanto os fabricantes francanos que só se preocupam em explorar mão-de-obra barata pra juntar dinheiro pra comprar caminhonete diesel, comprar chácara, sitio, rancho e casa na periferia pra instalar a amante, os fabricantes de sapatos chineses já estavam cuidando do futuro que agora lhes batem à porta. Agora os os nossos ilustríssimos empresários do setor coureiro-calçadista, que nome pomposo, não?, chorando por isenções fiscais pra manterem os seus luxos. E o salário??....o salário, óóó......