Músico Marcos Rontani faz dissertação acadêmica sobre Mahle

Mestre em Música pela Unicamp, Marcos Rontani foi aluno da Escola de Música de Piracicaba desde a infância. Anos depois, transformou sua vivência em pesquisa: escreveu uma dissertação de mestrado (Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle – EMPEM: Percurso Histórico e Princípios Pedagógicos) sobre a história da Escola e o papel do Maestro Ernst Mahle, com quem teve contato direto. O trabalho, realizado com base em entrevistas com Mahle, dona Cidinha e outros integrantes da trajetória da instituição, nasceu de uma provocação da própria fundadora, dona Cidinha Mahle, esposa do Maestro: “Ela me disse que ninguém havia deixado nada registrado sobre a Escola. Depois, sugeriu que eu escrevesse sobre o ensino ali. Isso me tocou”, relembra.
Sem bibliografia prévia, a dissertação se construiu a partir de memórias, depoimentos e da própria experiência de Marcos como estudante. O principal foco do trabalho foi entender como, mesmo sendo uma escola do interior paulista e com poucos recursos públicos, a instituição conseguiu formar músicos que hoje atuam em orquestras brasileiras e europeias, muitos deles como solistas. “A única ajuda externa relevante que havia era do Jornal de Piracicaba”, destaca.
Um dos pilares da proposta pedagógica era justamente o ensino musical em conjunto. “Em 1953, só se ensinava piano na cidade. A proposta era ampliar o leque, com instrumentos variados, técnica vocal e canto coral, promovendo experiências coletivas. A ideia era fazer arte em grupo”, explica. A concepção se alinhava à filosofia de vida de Mahle, que seguia a antroposofia. Segundo Marcos, a influência dessa visão se refletia no método: os alunos não avam por provas formais e eram avaliados por observação e exercícios práticos. “Havia um curso oficial para quem queria diploma, mas o curso livre era mais leve e mais interessante. Falo isso com base na minha experiência como aluno.”
Marcos também destaca a importância da educação musical como ferramenta de formação humana: “A música em grupo ajuda a desenvolver a percepção, a comunicação, a concentração e a autodisciplina. Forma pessoas mais íntegras e felizes.”
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Entre as histórias que ouviu de Mahle, uma o marcou especialmente: o maestro preferia só assistir música ao vivo. “Ele dizia que, ao vivo, o espectador sente a emoção verdadeira do artista naquele momento. Em gravações, a emoção se perde, porque pode ser regravada muitas vezes.”
Como compositor, Mahle escrevia arranjos pensando nos alunos e suas dificuldades técnicas. Criava peças com base em músicas infantis internalizadas pelas crianças, ou no folclore brasileiro e do leste europeu. “A gente aprendia brincando. Toquei muitas dessas peças nas orquestras da Escola.” Marcos lembra com carinho da ópera Maroquinhas Fru Fru, com texto de Maria Clara Machado, e de A Moreninha, ambas com melodias que o marcaram profundamente.
Marcos destaca que a produção musical de Mahle dialoga muito bem com outras escolas e movimentos musicais do Brasil e do mundo. Suas composições são amplamente aceitas por alunos de outras instituições e executadas por orquestras no Brasil e no exterior.
Para Marcos, o legado do maestro Ernst Mahle está nos muitos alunos excelentes que formou, músicos disciplinados e personalidades marcantes.
O maior aprendizado que ele tirou da pesquisa foi o contato com os livros de Antroposofia, escritos por Rudolf Steiner, que Mahle lia com iração. Essa filosofia, baseada nos princípios da Revolução sa — liberdade, igualdade e fraternidade — enriqueceu a visão do pesquisador sobre a obra do maestro.
Na avaliação de Marcos, a Escola teve papel fundamental na projeção de Piracicaba no cenário artístico nacional. “Colocou o nome da cidade em destaque. E contribuiu para formar pessoas melhores.” Ele acompanhou diversas fases da Escola e acredita que as mudanças que presenciou foram positivas. Mais tarde, quando a instituição foi assumida pela Unimep, ele já estava em Campinas, atuando como músico profissional nas orquestras da cidade.
Marcos revela que sua dissertação está em avaliação pela Comissão de Publicação do Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP), aguardando aprovação para ser publicada e alcançar um público maior.
Atualmente, embora aposentado da Orquestra Sinfônica Municipal de Campinas, ele segue ativo como músico na Orquestra Sinfônica da Unicamp.
Com olhar sensível de quem viveu por dentro a história e depois a registrou, Marcos Rontani reforça o que tantos alunos também dizem: Mahle não formava apenas músicos — formava pessoas.
Com um conselho simples e direto, Marcos deixa uma mensagem para os jovens: “Diria que os jovens músicos perseverem bastante e se dediquem com muito gosto.”