
Sintomas leves podem esconder quadro grave de infecção pulmonar.
Uma forma menos evidente de pneumonia tem despertado atenção de especialistas e preocupação entre os pais. A chamada “pneumonia silenciosa” — também conhecida como atípica, subclínica ou assintomática — desafia o diagnóstico precoce por surgir com sinais menos intensos, o que retarda o início do tratamento e pode resultar em complicações graves, especialmente em crianças.
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Riscos discretos, mas perigosos
Ao contrário da pneumonia tradicional, provocada pela bactéria Streptococcus pneumoniae, que apresenta febre alta, dor torácica e tosse forte logo no início, a forma atípica se desenvolve de forma mais insidiosa. Os sintomas, quando presentes, surgem de forma leve e progressiva, como cansaço excessivo, chiado no peito, redução do apetite, febre baixa e sinais respiratórios sutis, como retração das costelas ou diminuição da frequência urinária.
Avanço dos casos e desafios no diagnóstico
Segundo dados do DataSUS, o número de internações por pneumonia aumentou em 5% no Brasil em 2024, alcançando 701 mil registros — um salto em relação aos 666,9 mil do ano anterior. Ainda mais alarmante foi o crescimento de 12% no número de mortes causadas pela doença, com 73.813 óbitos em 2024. O estado de São Paulo seguiu a tendência nacional, com aumentos superiores à média tanto nas internações quanto nos óbitos, reforçando o alerta sobre a presença de quadros atípicos, muitas vezes sem febre.
Por trás do aumento: imunidade fragilizada e agentes infecciosos
Para o pneumopediatra Luiz Vicente Ribeiro, do Hospital Israelita Albert Einstein, o crescimento de casos está relacionado à retomada das atividades sociais e escolares após os anos mais restritivos da pandemia. Com menor exposição anterior, especialmente entre as crianças, houve uma falha no desenvolvimento natural da imunidade a microrganismos como Mycoplasma sp. e Chlamydophila sp., dois dos principais responsáveis por essa forma atípica de pneumonia.
Esses agentes costumavam ter comportamento sazonal, aparecendo a cada dois ou três anos. No entanto, o isolamento social pode ter rompido esse ciclo, favorecendo surtos mais prolongados e imprevisíveis. “Com a volta à convivência em ambientes cheios de vírus e bactérias, muitos indivíduos estão enfrentando uma verdadeira ‘primeira exposição’ a agentes com os quais não haviam tido contato antes”, explica o especialista.
Como identificar e tratar a pneumonia silenciosa
O diagnóstico costuma envolver anamnese, exame físico com ausculta pulmonar e radiografia do tórax. Exames complementares, como o de proteína C-reativa, ajudam a investigar o tipo de agente causador, mas nem sempre alteram a conduta médica. Por isso, são usados com parcimônia.
O tratamento varia conforme o perfil do paciente e o provável agente infeccioso. Enquanto a pneumonia típica responde bem à penicilina e antibióticos comuns, os casos causados por Mycoplasma sp. exigem medicamentos mais específicos, como macrolídeos. O atraso no atendimento pode resultar em complicações graves, incluindo falência de órgãos, sepse, AVC, necessidade de ventilação mecânica e até encefalite.
Prevenção e cuidados continuam essenciais
Embora a pneumonia silenciosa não seja ível de notificação obrigatória no Brasil, estima-se que ela represente de 30% a 40% dos casos da doença, segundo a pneumologista Marcela Costa Ximenes, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Isso corresponde a uma incidência de até quatro casos para cada mil pessoas.
A prevenção continua baseada em medidas já conhecidas: evitar contato com pessoas gripadas, manter a higiene das mãos, usar máscaras em locais de alto risco e manter a vacinação em dia. A vacina pneumocócica, ainda que voltada à forma típica da doença, protege grupos vulneráveis — como crianças e idosos — e está disponível gratuitamente pelo SUS.
“Mesmo com mudanças nos padrões sazonais e nos agentes envolvidos, é importante reforçar que a pneumonia é uma condição já conhecida e com tratamento eficaz quando identificada a tempo”, destaca Ximenes. O alerta está dado: atenção aos pequenos sinais pode ser fundamental para evitar complicações maiores.