
Profissionalismo criminoso que movimentava milhões de reais e agia com violência. É assim que o Ministério Público do Estado de São Paulo descreve a organização criminosa que atuava com empréstimos ilegais, ameaças, lavagem de dinheiro e empresas de fachada. A quadrilha foi alvo de uma nova fase da Operação Castelo de Areia, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), nesta terça-feira, 3, em Franca, Ribeirão Preto e Pedro Leopoldo (MG). Veja quem são todos os suspeitos e o que faziam na quadrilha.
Rogério Alves dos Santos, conhecido como “Gel”, é apontado como chefe de um dos núcleos da organização. Já foi condenado por tráfico de drogas e associação para o tráfico, e é irmão de Ronny Hernandes, preso em 2023 na primeira fase da operação.
A investigação aponta que, mesmo após a prisão do irmão e de outros agiotas, Rogério não parou de atuar e teria pago R$ 300 mil para ajudar comparsas a saírem da cadeia.
“Aí, eles pode até me pegar, mas, assim, não sei o que eles vai colocar. Vai pôr minha conta lá, né? Aquele tanto Pix lá. Mas, mano, não tem nenhum cliente denunciando. É, não tem uma escuta nossa. Vai dar trabalho, eles vai ter que ralar pra conseguir segurar nós. E outra, Rogerinho falou lá, o advogado, não fala pra ninguém... 'qualquer lugar que cai lá em São Paulo eu tiro, BO de agiotagem'. Só que demora uns 2 mesinhos e é caro, né. ...de um cem para cima. Falou que o Evanderson mesmo ele vai tirar (sic)”, diz Rogério em um dos áudios interceptados.
O esquema: como funciona
O grupo oferecia empréstimos com juros abusivos — geralmente de 20% ao mês — e realizava as cobranças por meio de mensagens no WhatsApp, com ameaças veladas ou diretas. Acusado de ser um dos líderes da quadrilha, Rogério Alves dos Santos enviava mensagens padronizadas às vítimas com os detalhes do 'acordo':
“Valor do empréstimo: R$ 5.000 / Juros: 20% / Total com juros: R$ 6.000 / Pagamento em 30 dias. Se não pagar, entra no protesto e vamos conversar pessoalmente (sic)", dizia a mensagem.
Segundo o Ministério Público, Rogério também orientava os comparsas a não emprestarem dinheiro a pessoas que tivessem apenas RG, alegando que clientes com CNH tinham mais a perder judicialmente, o que facilitava a cobrança.
Ameaças: ”vou te ass"
Durante as investigações do Ministério Público, foi descoberto que a quadrilha de Rogério empregava a mesma violência que o outro grupo criminoso. Em uma conversa interceptada, um dos suspeitos enviou uma mensagem a um cliente.
“Vou pegar seu endereço. Vou te ass…seu lixo. Tirei o dia para te achar. Vou perder o meu natal, mas vou te achar (sic)".
Mesmo com a pessoa informando que teria o dinheiro somente na semana seguinte, as ameaças continuaram.
Como lavavam o dinheiro
Para esconder a origem dos valores, a quadrilha usava empresas de fachada, como a Sancred Atividades de Cobrança EIRELI, registrada em nome de Rogério. A empresa, que aparecia como “consultoria e cobranças”, servia para lavagem de dinheiro e disfarçar os lucros obtidos com a agiotagem, dizem os promotores.
As contas da Sancred e do próprio Rogério registraram mais de 41 mil transações financeiras, com valores incompatíveis com a renda declarada. O COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) emitiu alertas sobre movimentações suspeitas envolvendo o grupo.
Tecnologia a favor do crime
Os criminosos usavam WhatsApp e emails para operar. O Gaeco teve o a backups de conversas, áudios, fotos de documentos de vítimas e planilhas de controle de dívidas armazenadas em nuvem.
As mensagens revelam ameaças constantes e até recomendações internas para mudar os apelidos dos envolvidos, dificultando a identificação e o rastreamento pelas autoridades.
Quem são os envolvidos e o que faziam no esquema?
A investigação do Gaeco aponta que a quadrilha atuava com uma divisão de funções bem definida. Veja abaixo quem são os investigados e qual era, segundo os promotores de Justiça, a participação de cada um no esquema de agiotagem:
Rogério Alves dos Santos, conhecido como “Gel”
- Função: líder de um dos principais núcleos da quadrilha. Comandava operações financeiras, organizava cobranças, ameaçava clientes inadimplentes e controlava contas e empresas de fachada, como a Sancred. Também articulava apoio jurídico para libertar outros membros da organização.
Thiago Giacomini Cravo
- Função: braço direito de Rogério e também financiador da quadrilha. Ajudava nas cobranças e empréstimos, operava a própria célula, movimentava altos valores e financiou outro grupo criminoso investigado em 2023. Apresentava-se como consultor financeiro nas redes sociais.
Alex Alves dos Santos
- Função: irmão de Rogério e apoiador logístico. Usava contas bancárias em seu nome e auxiliava nas movimentações financeiras e no contato com os clientes.
Alex Sander Henrique da Silva
- Função: captador de clientes e cobrador. Atuava na negociação de empréstimos e cobranças, inclusive com ameaças, conforme mensagens extraídas do WhatsApp.
Patrick da Silva Delgado
- Função: cobrador e operador do esquema. Responsável por recuperar valores emprestados e reá-los aos líderes, usando linguagem intimidatória.
Willian Fernando Alves do Nascimento (vulgo “Buzina”)
- Função: cobrador e segurança do grupo. Era acionado para pressionar vítimas inadimplentes e aparece em diálogos com envolvimento em ameaças.
Wescley Mateus Carlos da Costa (vulgo “Leão”)
- Função: intermediário nas cobranças. Tinha contato direto com outros membros, apoiava ações de intimidação e atuava na comunicação entre núcleos.
Carlos Roberto de Souza (vulgo “Pizza” ou “Pitça”)
- Função: apoio nas cobranças e movimentações financeiras. Atuava como e ao grupo e usava contas próprias para lavagem de dinheiro.
Rayander Luiz Nascimento Loviat
- Função: ligado ao núcleo de empréstimos e movimentações. Apontado como participante na estrutura de agiotagem, envolvido em transferências suspeitas.
Célio Luis Martins
- Função: auxiliar na lavagem de dinheiro e apoio operacional. Colaborava com Rogério e outros integrantes na movimentação de valores ilícitos.
Everaldo Bastos Guimarães
- Função: ligado à organização criminosa desde fases anteriores. Parente de outros investigados, ajudava na gestão financeira da quadrilha.
Eraldo Bastos Guimarães
- Função: colaborador em transferências bancárias e e. Atuava com Everaldo na movimentação de recursos ilícitos.
Bruno Ricardo de Matos Souto
- Função: operador independente e colaborador da célula de Rogério. Prestava apoio ao esquema de agiotagem, operando com os irmãos Carrijo e Antônio Mathias.
Antônio Henrique Pimenta Mathias
- Função: Operador de empréstimos e e à lavagem de dinheiro. Envolvido diretamente em transações e manobras para esconder a origem ilícita dos valores.
Matheus Carrijo Machado
- Função: captação e intermediação de clientes. Atuava na captação de novos clientes e também utilizava suas contas para receber pagamentos.
Leonardo Carrijo Machado
- Função: participante ativo na estrutura financeira do grupo. Era responsável por cobranças, movimentações e articulações entre os núcleos.
Jonathan Nogueira dos Santos Reis
- Ele cobrava e cadastrava os clientes.
Até o término desta matéria, a reportagem não conseguiu contato com a defesa de todos os suspeitos.
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Comentários
3 Comentários
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APARECIDO DONIZETE NUNES 16 horas atrásTUDO GENTE BOA , FAZIAM CARIDADE NA IGREJA. KKKKKKKKKKKKKK
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Dirceu 1 dia atrasNão sei quem é o pior... os agiotas ou os tais clientes deles... Cara, se vc sabe que o juro é abusivo, pra quê entrar em uma furada dessas? É muita inocência, ou burrice mesmo.
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Guri 1 dia atrasSe não fosse por enfrentar justiça por livrar de lixo, eu teria colocado na vala todos eles, em um dia só.